Concerto para piano

Desde as primeiras obras “concertantes” ― ou seja, que promovem o diálogo entre forças, a troca de idéias musicais ― que o teclado tem papel fundamental nisso. Nem se tinha clara a idéia de Concerto como uma obra que opunha um solista ao conjunto sinfônico e as Sonatas (nomenclatura ainda associada simplesmente a “fazer soar”) que aparecem no século XVII já promovem o jogo de concerto entre seus componentes, dentre os quais se colocava o cravo ou órgão, ainda que, na maioria das vezes, no papel de baixo-contínuo.

Nos primeiros Concertos propriamente ditos, com mais de um solista, os chamados “Concerti Grossi”, o cravo estava quase sempre presente, num conjunto que àquela primeira hora era só de cordas. Daí vieram, no Barroco, os concertos mais encorpados, estabeleceu-se a estrutura vivo-lento-vivo em 3 movimentos e Bach deu ao teclado, pela primeira vez no Concerto de Brandemburgo n. 5, o papel de solista.

Com o desuso do cravo e o aprimoramento do pianoforte (ou fortepiano) durante a segunda metade do século XVIII, Mozart será o responsável por estabelecer a forma do Concerto para piano, que das mãos de Beethoven se tornarão veículo de expressão maior, transformando o piano (aí já podemos falar em piano!) no principal solista do século XIX, o Romantismo.

Em sua forma mais convencional, um Concerto para piano tem 3 movimentos. O primeiro, rápido, tem uma frase de abertura entregue à orquestra, que convida o solista a comentar e modificar as idéias musicais propostas; após o jogo concertante entre as duas forças (solista e orquestra), antes do final do movimento aparecerá a cadenza, um trecho sem a participação da orquestra, que a princípio ― ao menos até Beethoven escrever seu Concerto “Imperador” sem cadenza ― seria um espaço de improvisação para o solista mostrar seus dotes. O segundo movimento será, sempre, uma frase lírica, de andamento mais lento e reflexivo. O terceiro será novamente ágil, bem-humorado e leve, geralmente na forma de “Rondò” (ou Rondeau) que significa “redondo”, ou seja: uma idéia musical é mostrada para a ela retornar sempre depois de passar por uma idéia semelhante mas modificada.

© RAFAEL FONSECA