(1788) MOZART Concerto para piano n. 26 "Coroação"

Krönungskonzert — Concerto da Coroação

Compositor: Wolfgang Amadeus Mozart
Número de catálogo: K 537 / K-6 537
Data da composição: rascunhos no final de 1787, completado a 24 de fevereiro de 1788
Estréia: 14 de abril de 1789 — em Dresden, Mozart no piano e regência

Duração: cerca de 30 minutos
Efetivo: piano solista;
Efetivo: 1 flauta, 2 oboés, 2 fagotes, 2 trompas, 2 trompetes, tímpano e as cordas (primeiros- e segundos-violinos, violas, violoncelos e contra-baixos)

Após uma fase de intensa atenção aos Concertos para piano, na qual escreveu 12 deles entre 1784 e 1786, todos para sua apresentação como solista virtuoso nas chamadas Akademien em Viena, Mozart só viria a voltar sua criatividade ao gênero em duas ocasiões nos últimos cinco anos de sua vida: em 1788 com este Concerto e depois o derradeiro, de número 27, no último ano de sua vida em 1791.

Muitos vêem nesta partitura — de gosto mais rebuscado, remetendo a um rococó já ultrapassado àquela altura — um certo academicismo e a falta da originalidade encontrada em abundância na maioria dos anteriores. Na verdade o Concerto respira uma atmosfera mais contida, de elegância quase haydniana, sóbria e altiva. O título da obra seria dado após a morte do autor, pelo editor Johann André em 1794, pois este foi o Concerto que Mozart tocou em Frankfurt em 15 de outubro de 1790, seis dias depois da Coroação de Leopoldo II como Imperador Romano-Germânico naquela cidade (embora algumas fontes dêem que Mozart teria tocado a obra como parte das festividades, ele na verdade deu um concerto em benefício próprio, aproveitando sua estada no local).  

I. Allegro (Rápido) — cerca de 14 minutos
A primeira frase da abertura, discreta e de contorno suave, logo dá lugar a um tema exaltado, de nobreza empertigada; o piano entra seduzindo o ouvinte, delicadamente, sem propor grandes sobressaltos (estes ficaram quase todos a cargo da orquestra). O discurso do solista é, durante quase todo o tempo, conciliador e aprazível. Uma curiosidade que vale notar é que Mozart tocava a parte solista de memória e deixou a partitura da parte do piano com inúmeras lacunas que precisaram ser resolvidas nas edições posteriores. Lacunas especialmente presentes na parte da mão esquerda (acompanhamento, portanto), o que não chega a comprometer a autenticidade do que escutamos hoje.

II. Larghetto (Sem arrastar) — cerca de 6 minutos
O tema do movimento lento é quase triste, algo não muito comum numa obra mozartiana. Para contribuir com a serenidade da passagem, o piano permanece sozinho em boa parte do trecho, e muitas vezes seu diálogo se dá somente com as cordas, que promovem uma moldura discreta e acolhedora às delicadas melodias desenhadas pelo solista. A caligrafia nos originais mostram que a marcação deste o do próximo movimento não foram escritas por Mozart, mas por outra pessoa — talvez por indicação dele, ou foram acrescidas pelo editor, que tendo ouvido Mozart tocar a obra, sabia quais tempi deveriam ser aplicados.

III. Allegretto (Quase rápido) — cerca de 10 minutos
O estilo galante e palaciano impõe-se com força total, fazendo lembrar composições de sua juventude, como as aberturas das primeiras óperas, os movimentos rápidos das primeiras Sinfonias e dos primeiros Concertos (incluindo aqui os feitos para violino, que datam de uma década e meia antes). Mas Mozart é Mozart, e o milagre do encadeamento perfeito das ideias musicais, o fluxo original e a harmonia perfeita das combinações sonoras, tudo isso está presente. Seria equivocado — como alguns teóricos o fazem — comparar este Concerto com os da fase áurea ou o posterior (o último, número 27) para colocá-lo em desfavor. Mozart estava exercitando a forma sem muitas pretenções, talvez aqui experimentando soluções e caminhos diferentes do habitual, o que se pode perceber em algumas passagens.

© RAFAEL FONSECA


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