(1908) RAVEL Rapsódia Espanhola

Rapsodie espagnole

Compositor: Maurice Ravel
Número de catálogo: M 54
Data da composição: 1895 (a Habanera, para piano a 4 mãos); 1907 a 1908

Estréia: 15 de março de 1908 no Théâtre du Châtelet em Paris — Édouard Colonne regendo sua Orchestre des Concerts Colonne

Duração: cerca de 16 minutos
Efetivo: 2 flautas-piccolo, 2 flautas, 2 oboés, 1 corne-inglês, 2 clarinetas, 1 clarineta-baixo, 3 fagotes, 1 sarrusofone (espécie de fagote de banda de rua, de grande alcance sonoro), 4 trompas, 3 trompetes, 3 trombones, 1 tuba, tímpano, bumbo, tamborim basco, tam-tam, pratos, triângulo, castanholas, xilofone, celesta, 2 harpas, as codas (primeiros- e segundos-violinos, violas, violoncelos e contra-baixos)

Ravel era natural de Ciboure, cidade francesa da região basca, nos Pirineus atlânticos, quase na fronteira da Espanha, então a atmosfera "espanhola" não lhe era estranha. Para além disso, o fascínio pelo calor espanhol andava lufando a música francesa desde a "Carmen" de Bizet (1875), passando pela "España" de Chabrier (1883) e chegando à sua própria Habanera — que embora de origem cubana, evoca o espírito latino hispânico — que Ravel escreveu para piano a 4 mãos em 1895. Esta será a centelha para a criação da Rapsódia Espanhola, tornando-se (orquestrada) o terceiro movimento da peça. 

Esta será sua primeira obra mais ambiciosa para grande orquestra, e Ravel já se mostra aqui um orquestrador ímpar, provocando efeitos e combinações sonoras sedutoras, trazendo ao ouvinte a ideia da sensualidade ibérica que tanto fascinava os compositores da época.

I. Prélude à la nuit: Très modéré
(Prelúdio à noite: Muito moderado) — cerca de 6 minutos
A obra se inicia em clima de grande mistério, de ardor febril, e aos poucos vão pipocando sonoridades, como se do calor imaginário brotassem desejos sensuais. O uso da orquestra, embora Ravel disponha de um considerável manancial de instrumentos, é contido e elegante.

II. Malagueña: Assez vif
(Malaguenha: Bastante vivo) — cerca de 2 minutos
Um trecho calcado na dança característica que originalmente era dança de corte com referência a Málaga, e que posteriormente tornou-se ícone do estilo flamenco, cheio de volúpia. Ravel usa excepcionalmente a percussão, que conversa com o trompete (que traz excitação) e com o corne-inglês (melodia de languidez quase perturbadora) num efeito encantador.

III. Habanera: Assez lent et d'un rythme las
(Havanesa: Bastante lento e com um ritmo cansado) — cerca de 3 minutos
Este é o movimento precursor da obra, concebido por Ravel 12 anos antes para dois pianos, tendo a Habanera da Carmen de Bizet como inspiração. Na orquestração aqui presente, ganha ainda mais sensualidade. Na versão de 1895 tinha como sub-título "Au pays parfumé que le soleil caresse" (No país perfumado que o sol acaricia).

IV. Feria: Assez animé
(Festa: Bastante animado) — cerca de 7 minutos
No movimento final o compositor faz explodir toda essa Espanha imaginária, a agressividade sensual que a própria língua espanhola traz, o furor de suas danças, o clima fervilhante e quente de suas paisagens. Como episódio contrastante, no centro do movimento, clarineta e corne-inglês desenham uma atmosfera suave e lânguida, mas logo o ritmo volta a se acelerar, e a atmosfera frenétrica e cheia de brilho novamente se impõe para concluir a obra. 

© RAFAEL FONSECA


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Por favor, ao postar seu comentário, não deixe de incliur seu endereço eletrônico, para que possamos manter contato! (R. F.)