Ромео и Джульетта — transliteração de Romeo i Dzhul'etta
Compositor: Piotr Ilyich Tchaikowsky
Número nos catálogos: TH 42 / ČW 39
Data da composição: outubro a novembro de 1869 (a primeira versão)
Data da composição: verão de 1870 (a segunda versão com final modificado)
Data da composição: de agosto a 10 de setembro de 1880 (versão definitiva)
Estréias: 16 de março de 1870 (versão I) — Moscou, regência de Nikolaj Rubinstein
Estréias: 17 de fevereiro de 1872 (versão II) — São Petersburgo, regência de Eduard Nápravník
Estréias: 1 de maio de 1886 (versão definitiva) — Tbilisi, Georgia (à época no Império Russo), regência de Mikhail Ippolitov-Ivanov
Duração: de 17 a 25 minutos
Efetivo: 1 flauta-piccolo, 3 flautas, 2 oboés, 2 clarinetas, 2 fagotes, 4 trompas, 2 trompetes, 3 trombones, 1 tuba, tímpanos, caixa-clara, bumbo, pratos, harpa, as cordas (primeiros- e segundos-violinos, violas, violoncelos e contra-baixos)
Compositor: Piotr Ilyich Tchaikowsky
Número nos catálogos: TH 42 / ČW 39
Data da composição: outubro a novembro de 1869 (a primeira versão)
Data da composição: verão de 1870 (a segunda versão com final modificado)
Data da composição: de agosto a 10 de setembro de 1880 (versão definitiva)
Estréias: 16 de março de 1870 (versão I) — Moscou, regência de Nikolaj Rubinstein
Estréias: 17 de fevereiro de 1872 (versão II) — São Petersburgo, regência de Eduard Nápravník
Estréias: 1 de maio de 1886 (versão definitiva) — Tbilisi, Georgia (à época no Império Russo), regência de Mikhail Ippolitov-Ivanov
Duração: de 17 a 25 minutos
Efetivo: 1 flauta-piccolo, 3 flautas, 2 oboés, 2 clarinetas, 2 fagotes, 4 trompas, 2 trompetes, 3 trombones, 1 tuba, tímpanos, caixa-clara, bumbo, pratos, harpa, as cordas (primeiros- e segundos-violinos, violas, violoncelos e contra-baixos)
Em primeiro lugar, vamos esclarecer a questão das 3 versões da obra, citadas acima: o que ouvimos hoje, nas salas de concertos, é a versão definitiva. A primeira versão, obra de um compositor não tão jovem (29 anos) mas recém-saído do Conservatório — Tchaikovsky formou-se advogado e só depois de empregado no Ministério da Jurisprudência foi estudar música seriamente — e denota certo formalismo e menor grau de sedução na apresentação dos temas. O início da primeira versão é radicalmente diferente, mais simples, com discreta devoção ao Classicismo de Mozart; mas ela já apresenta no miolo da peça, os geniais temas de amor de de ódio que se confrontam, com grande força e dramaticidade.
A segunda versão feita logo após a estréia, por conselho do mestre Balakirev, muda radicalmente o final, impondo uma coda bem mais dramática. A terceira e definitiva versão, a que ouvimos hoje, muda o início, tornando-o mais dramático e criando mais expectativa ante a chegada dos temas do amor e do ódio, e re-organiza o final proposto na versão II conferindo à obra ainda mais pungência. É esta versão que analisaremos aqui:
Andante non tanto quasi moderato — Allegro — Molto meno mosso — Allegro giusto — Moderato assai
(Confortavelmente mas não tanto, quase moderado — Rápido — Bem menos movimentado — Rápido na medida certa — Bastante moderado)
A obra inicia-se lentamente, como um coral religioso ortodoxo russo, fazendo referência à figura de Frei Lourenço. A seguir, temos a atmosfera de apreensão da Verona que vive a briga de duas famílias. O primeiro grande tema aparece, violento, e representa o ódio entre os Montecchios e Capuletos; os pratos mimetizam os choques das espadas. Logo a seguir Romeu e Julieta se conhecem e é a vez do tema de amor que se aparece primeiro em forma mais branda, significando a ternura e o encantamento do primeiro olhar. Sua repetição será envolvida em maior arrebatamento e trará ao cenário a paixão que toma conta dos protagonistas. O tema de Frei Lourenço retorna, agora bem mais agitado, e se colocará em oposição ao tema do ódio, como se fosse sua interferência em favor do amor — vale lembrar que esta Abertura-Fantasia, como Tchaikovsky a chamou, não é a tradução musical literal do texto de Shakespeare, e sim sua síntese. O tema do amor retorna, agora com mais força e sensualidade, a realização do amor carnal e o sublime êxtase dos jovens amantes. Sua repetição será ainda mais impactante e jubilosa, mas agora entrecortada pelo tema do ódio, retratando a impossibilidade da união pela oposição das famílias. A música transforma-se numa marcha fúnebre, e a cena agora está na cripta onde Julieta espera acordar e encontrar o amado esperando por ela: repete-se o tema do amor, agora esperançoso, mas cortado abruptamente pelos metais da orquestra que mostram o horror pelo choque de saber Romeu envenenado e a subsequente morte de ambos.
Precisamos entrar um pouco na intimidade do autor para entender o fascínio dele em relação à temática da peça de Shakespeare e sua proposta musical ser tão envolvente e arrebatadora — nenhuma outra obra conseguirá síntese tão eficiente transformando literatura em música. Um amor que é impedido de se realizar, que é esmagado pelo ódio e pelas aparências sociais. E nenhum outro tema poderia falar tão eloquentemente à alma conturbada de nosso compositor, ele mesmo impedido de realizar seus amores por conta das convenções da Rússia imperial e da moral vigente no século XIX. Sabemos de seu interesse, desde os tempos de colégio interno, por colegas do mesmo sexo; depois por alunos, e no fim da vida pelo próprio sobrinho. É por isso que Tchaikowsky consegue extrair tanto do drama shakespeariano, pois ele está traduzindo a impossibilidade de amar segundo seus próprios temores e frustrações.
© RAFAEL FONSECA
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