(1886) R. STRAUSS Poema Sinfônico "Da Itália"

Aus Italien, sinfonische Fantasie (Fantasia sinfônica)

Compositor: Richard Strauss
Número de catálogo: Opus 16 / TrV 147
Data da composição: por volta de julho de 1886 a 12 de setembro de 1886
Estréia: 2 de março de 1887 em Munique — Orquestra da Corte (Hoforchester, hoje Orquestra Estatal da Baviera) sob regência do autor

Duração: cerca de 45 minutos
Efetivo: 1 Flauta-piccolo, 2 Flautas, 2 Oboés (o segundo alternando com Corne-inglês), 2 Clarinetas, 2 Fagotes, 1 Contra-fagote, 4 Trompas, 2 Trompetes, 3 Trombones, Tímpanos, Caixa-clara, Tamborim, Pratos, Triângulo, 1 Harpa, e as Cordas (primeiros-violinos, segundos-violinos, violas, violoncelos e contra-baixos)

Os Poemas Sinfônicos foram popularizados por Franz Liszt no meado do século XIX traduzindo idéias literárias em música; Richard Strauss seria, em seguida, o segundo criador de grandes obras no gênero, transferindo das páginas de Nietzsche o "Zaratustra" para sua música mais famosa. Mas este "Aus Italien" não pode ser exatamente classificado como "o primeiro" Poema Sinfônico dele, simplesmente. Olhemos para a obra como o primeiro passo em direção ao gênero, ao qual o compositor levaria à perfeição. Aqui, Strauss ainda não tinha domínio da forma, ou talvez nem quisesse, pois estruturou a obra quase como uma Sinfonia, e, ademais, quis chamá-la de Fantasia Sinfônica. 

Mas a característica medular dos Poemas Sinfônicos está presente na obra: embora o compositor não tenha buscado na literatura sua inspiração, o fato de ter nela expressão de suas impressões italianas faz com que ela seja, sim, encaixada no escaninho dos grandes Poemas Sinfônicos dele. E, mais importante, a obra é a culminância do ponto de virada artística, quando Strauss deixa a fase na qual inspirava-se em compositores clássicos e passa a um estilo mais maduro e ousado.

Strauss começa a escrever essa "Fantasia" na própria viagem que o inspirou, quando esteve em Roma, Bolonha, Nápoles, Sorrento e Capri. São 4 movimentos:

I. Auf der Campagna: Andante, molto tranquillo
(No campo: A passo de caminhada, muito tranqüilo) — cerca de 10 minutos
Uma página evocativa, que sempre nos faz pensar no efeito da luz solar, abundante naquela península ao sul da Europa, aos olhos de um compositor germânico (ainda que nascido na Baviera). Há ecos do velho Brahms, grande admiração do autor, mas também de Berlioz e Liszt (ambos "retratistas", com muita eficiência, da Itália como terra da felicidade e paixão). Mas Richard Strauss já demonstra um estilo de tratar a textura orquestral que iria ser sua marca registrada: o som caudaloso, derramado, imponente, grandiloqüente. A atmosfera pastoril é alcançada mais pelo espírito do movimento que pela música em si, muito mais empavonada que campestre. 

II. In Roms Ruinen: Allegro molto con brio
(Nas ruínas de Roma: Bem rápido e com brio) — cerca de 12 minutos
Há uma reflexão possível, a de que todo artista esperava ter, ao colocar os pés diante do que restou da Roma dos Césares, de vivenciar uma transformação pessoal. Não que Strauss tenha declarado ou sugerido isso, é mera suposição minha. Porém, o ímpeto quase agressivo deste trecho, uma busca pela beleza sôfrega e entrecortada por passagens doces, como quem tenta acalmar o espírito ante grande excitação, me parecem tão perfeitamente possíveis que não posso resistir ao paralelo.

III. Am Strande von Sorrent: Andantino
(Na praia de Sorrento: Passo de caminhada um pouco mais ágil) — cerca de 13 minutos
O trecho mais belo da partitura, cuja tessitura orquestral busca reproduzir a paisagem mediterrânea. Podemos classificar a passagem como impressionista, e o próprio Debussy ficou muito interessado nela. A qualidade da música aqui é superior aos demais movimentos e de grande inspiração. 

IV. Neapolitanisches Volksleben: Allegro molto
(Vida popular em Nápoles: Bem rápido) — cerca de 9 minutos
Talvez de olho na famosa Sinfonia "Italiana" de Mendelssohn, escrita meio século antes justamente após uma viagem à Itália do compositor hamburguês, Strauss quis também finalizar sua obra com uma tarantela. Seu único deslize foi a escolha do tema: "Finuculì-funiculà", uma conhecidíssima canção napolitana que ele acreditava ser da tradição folclórica local. Mas o autor estava vivo, Luigi Denza, e o processou pelo uso do tema de sua canção escrita 6 anos antes (1880).

© RAFAEL FONSECA

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Por favor, ao postar seu comentário, não deixe de incliur seu endereço eletrônico, para que possamos manter contato! (R. F.)