(1809) BEETHOVEN Concerto para piano n. 5 "Imperador"

Emperor Concerto

Compositor: Ludwig van Beethoven
Número de catálogo: Opus 73
Data da composição: 1809
Estréia: 28 de novembro de 1811 - Gewandhaus, Leipzig - Friedrich Schneider ao piano

Duração: 38 a 42 minutos
Efetivo: piano (solista); 2 flautas, 2 oboés, 2 clarinetas, 2 fagotes, 2 trompas, 2 trompetes, tímpano, cordas (primeiros-violinos, segundos-violinos, violas, violoncelos e contra-baixos)   

Vamos começar pelo título, esclarecendo esse "Imperador". Beethoven dedicou a obra ao seu aluno mais importante, o Arquiduque Rodolfo, irmão mais novo do Imperador Leopoldo II ― e as coincidências param aí. Beethoven jamais quis este título apensado ao seu último Concerto. Quem deu este nome à obra foi o editor Johann Cramer, responsável pela publicação da partitura na Inglaterra: acreditando ser aquele um Concerto grandioso como nenhum outro, o chamou "Emperor".

O próprio Beethoven não gostou do apelido, mas isso hoje de pouco adianta, pois o nome é bom "comercialmente" e usado indiscriminadamente. O que de fato confere a esta partitura tanto impacto, que levou Cramer a vê-lo como um "Imperador entre os concertos", foi uma evolução técnica do instrumento. Precisamos lembrar que nos tempos de Mozart (morto vinte anos antes) e da escrita dos primeiros concertos do próprio Beethoven, o piano ― ou melhor, "pianoforte", um instrumento capaz de ir do piano (som fraco) ao forte, em vantagem ao cravo, que quando tocado não transferia a força da mão do solista para o resultado final do som produzido ― ainda era um equipamento por sofrer muitas melhorias. E justo naquela época, Beethoven conheceu um piano cuja fabricação o tornava mais robusto e com maior alcance: das cinco oitavas do piano mozartiano, por esta época podia-se contar com instrumentos com seis oitavas. (Hoje têm-se até oito oitavas).

Então foi para este "Grande piano", este instrumento mais potente, que Beethoven escreveu sua obra derradeira para teclado e orquestra, para nela explorar todas as possibilidades da nova tecnologia. Além disso, diferente dos seus 4 Concertos anteriores, este é mais sinfônico, tirando proveito de uma grande orquestra, que conta com uma poderosa participação dos metais desde o início.

Não posso dizer que seja determinante para a estética da música, mas considerem que o ano da composição (1809) vê Viena como palco de uma invasão das tropas de Napoleão, provocando a retirada da Família Real e de todos os nobres da cidade ― o que deixou nosso Beethoven em aborrecimentos e preocupações com relação ao seu sustento, e à população toda num estado de penúria material. Alguns querem ver (num raciocínio simplista) sons de batalha na música; mas um certo militarismo no enfrentamento entre piano e orquestra pode não ser mero acaso.

I. Allegro
(Rápido) — de 20 a 23 minutos
Como em nenhum outro Concerto, como jamais um compositor havia ousado, orquestra e piano abrem fogo um contra o outro imediatamente, sem a tradicional frase de introdução da orquestra e a seqüente repetição dos temas pelo piano. Não, aqui o que se tem é um confronto aberto, a orquestra rasga um acorde impositivo e o piano lhe responde com um poderoso arpejo; outro acorde da orquestra, outra resposta em arpejo do piano. Desde o início, o piano quer mostrar ser ele o senhor da música, quer mostrar sua potencialidade, sua extensão melódica. Após três embates, a orquestra então expõe sua introdução, uma vasta frase sinfônica de um poder inédito. Num movimento longo, 20 minutos pelo menos (duração de movimento longuíssima para a época), o diálogo entre solista e conjunto se dá explorando de ambos todas as possibilidades, trazendo à cena agressividade, poesia, júbilo, vigor, heroísmo, encantamento e muito movimento. Não é à toa que o impacto, passados 2 séculos, ainda exalta as platéias do mundo inteiro como se a Revolução ainda estivesse à nossa porta.  
 
II. Adagio un poco mosso 
(Confortavelmente e um pouco lento) — cerca de 8 minutos
Na minha opinião, a página mais bela e mais lúdica escrita por Beethoven é o segundo movimento desta obra, um Adagio de grande expressividade, comovente e genialmente construída: as cordas criam a atmosfera, tendo a doçura do som das violas (instrumento que Beethoven tocava na orquestra quando jovem) a dominar o espaço sonoro; no ápice dessa pequena introdução, a flauta sublinha o tema, até que, como uma flor que brota inesperadamente, o piano surge, simples e tocante, com uma frase incrivelmente bela. Aqui Beethoven nos traduz em música a poesia em estado puro.

— attacca:
III. Rondò: Allegro
(sem interrupção — Rondò: Rápido) — cerca de 10 minutos
A frase delicada do segundo movimento vai desmanchando-se até transformar-se neste vigoroso Finale, empolgante, marcial e imponente. A parte solista esbanja luminosidade, a orquestra ora ruge tentando assustar o piano, ora complementa-lhe com delicadeza. Como no inçio, o piano está determinado a fazer-se o dono da música, a falar de igual para igual com seu poderoso oponente (a orquestra). De conclusão triunfal, este Concerto permanece como um belo desafio aos solistas e cria tensão monumental na platéia, permanecendo um Imperador que a todos agrada.

© RAFAEL FONSECA