(1943) BARTÓK Concerto para orquestra

Compositor: Béla Bartók
Número de catálogo: Sz 116 / BB 123
Data da composição: de 15 de agosto a 8 de outubro de 1943 (revisada em 1945)
Estréia: 1 de dezembro de 1944 - Boston, Estados Unidos - Orquestra Sinfônica de Boston, regência de Serge Koussevitzky

Em 1943, ano da composição desta obra, Bartók ― um excelente pianista, aluno de um aluno de Liszt ―já não podia mais se apresentar em público, devido a uma enfermidade que só seria diagnosticada no ano seguinte: leucemia. Doença esta que o mataria em 1945. Vivendo nos Estados Unidos, além de bastante debilitado pela doença, ele não estava exatamente feliz. O público norte-americano era refratário à sua obra e as maravilhas prometidas por seu agente para o Novo Continente nunca se concretizaram. Bartók emigrou em 1940, pois sua situação na Hungria natal era cada vez mais complicada por sua oposição ao Nazismo: desde o início dos 1930s que ele se recusava a se apresentar na Alemanha, justamente por conta da ascensão do regime hitlerista.

Como a situação do compositor era péssima, faltando-lhe mesmo dinheiro para necessidades básicas, os amigos acorreram para ajudar. Fritz Reiner, o grande regente, e József Szigeti, famoso violinista ― ambos húngaros ―, lideraram a ação e levantaram uma soma em dinheiro, que foi entregue ao maestro russo Serge Koussevitzky, diretor da Sinfônica de Boston e figura de imenso prestígio no meio musical estadunidense, para fazer a encomenda desta obra que iria estrear em 1944.

Após 2 anos sem compor uma única nota, Bartók parece ter fundido nesta composição tudo o que havia experimentado antes: planejou uma peça sinfônica que a princípio remete aos antigos Concerti Grossi (obras do princípio do Barroco, Concertos nos quais ainda não despontavam um único solista, mas sim todos os integrantes do conjunto atuavam como tais, explorando a linguagem de concerto, ou melhor, a "conversa" entre os diferentes instrumentos). Mas devido à idiomática do século XX, este Concerto para Orquestra pouco lembra as obras de um Corelli ou de um Geminiani do século XVIII, mas parecendo uma movimentada Sinfonia. Ele tira proveito da linguagem de concerto, tratando os instrumentos ― em certa medida ― como solistas, mas na verdade o que Bartók faz é abrir um painel no qual a linguagem concertante ― de concordar, discordar, repetir e alterar ― lhe serve como tradução para os aspectos de sua vida. Não é por acaso que a obra compreende um caldeirão de forças, umas afeitas à extraordinária musicalidade de seu tempo, outras reflexivas, e até o deboche (num trecho que remete a um tema utilizado antes por Shostakovich em sua Sinfonia n. 7).

© RAFAEL FONSECA