(1788) BEETHOVEN Concerto para piano n. 2

Compositor: Ludwig van Beethoven
Número de catálogo: Opus 19
Data da composição: 1787/1788; revisões em 1794/1795, depois em 1798
Estréia: 29 de março de 1795 - Burgtheater, Viena, Áustria - o próprio autor ao piano

Duração: cerca de 30 minutos
Efetivo: 1 piano solista; 1 flauta, 2 oboés, 2 fagotes, 2 trompas e as cordas (primeiros-violinos, segundos-violinos, violas, violoncelos e contra-baixos)

Apesar do número 2, é o primeiro Concerto escrito por Beethoven. Os dois movimentos iniciais foram escritos ainda em Bonn, cidade natal do compositor; já o Rondò do finale foi acrescido em 1795, em Viena, quando ele era aluno de Haydn. Por razões de publicação, um concerto posterior veio a público antes deste, portanto inverteu-se a numeração, mas este é o mais antigo.

A busca estética de Beethoven, ao escrever este concerto, eram os Concertos impecáveis escritos por Wolfgang Amadeus Mozart, ainda vivo em 1787, compositor que alcançou um patamar único no diálogo entre piano e orquestra, pleno de harmonia e leveza. Interessante notar que, assim como nos Concertos mozartianos, a orquestra prescinde da clarineta (instrumento que ganha lugar definitivo na orquestra nas obras finais de Mozart).

O estilo é, claramente, do Classicismo, mas Beethoven deixa-nos antever, ainda que de forma incipiente, que ele não irá conter-se à fôrma tão eficiente do período.

I. Allegro con brio
(Rápido com brio) — cerca de 13 minutos
Já na introdução da orquestra poderá se notar que certos arroubos jamais caberiam na harmonia apaziguadora do mestre Mozart ou nas sonoridades refinadas e polidas do Classicismo. Beethoven já se mostra, desde então, questionador, e um certo inconformismo ― ainda que suave ― permeia a toda a partitura deste primeiro movimento, que tenta equilibrar esse "desvio de conduta" beethoveniano à elegância típica do período.

II. Adagio
(Confortavelmente) — cerca de 8 minutos
Talvez a maior surpresa do Concerto esteja aqui em seu segundo movimento, o Adagio: denso e afirmativo, ele vai mais à frente de Mozart, ainda que não consiga superá-lo, flertando com o vigor do Romantismo (ainda por aparecer na história da música, pelas mãos do próprio Beethoven).

III. Rondò: Molto allegro
(Rondò: Muito rápido) — cerca de 6 minutos
O Rondò final tem influências óbvias de Haydn, de quem Beethoven se tornara pupilo, com uma atmosfera mais rígida e aristocrática; como esta página foi escrita posteriormente em Viena, ela carece da espontaneidade dos movimentos anteriores, mas beneficia-se desse contato de Beethoven com o maior compositor daquele tempo.

Beethoven evitava a apresentação dessas obras (este e o numerado como 1, na verdade obra posterior) na sua maturidade, talvez por enxergar nelas seu aprisionamento na estética do Classicismo. Mas hoje, pela força da música, esses concertos são muito freqüentes no repertório e é interessantíssimo ouví-los como o testemunho do desenvolvimento de um grande gênio e compositor, bem como o início de um desabrochar do autor e de sua obra em direção ao arrebatador Romantismo.

© RAFAEL FONSECA