(1806) BEETHOVEN Abertura "Leonore" n. 3

Compositor: Ludwig van Beethoven
Número de catálogo: Opus 72-b
Data da composição: 1805/1806
Estréia: 29 de março de 1806 - Theater an der Wien, Viena, Áustria - regência de Ignaz von Seyfried

A única ópera de Beethoven chama-se “Fidelio” e trata do amor incondicional de Leonore, personagem-título, por seu marido Florestan, um preso político. A ópera nunca foi um grande sucesso durante a vida do compositor, que pouca afinidade tinha com o gênero, além de nada disposto a fazer concessões a um público afeito a obras mais leves e jocosas como o “Barbeiro de Sevilha” de Rossini, um grande sucesso da época. Antes do título definitivo “Fidelio, ou o Triunfo do Amor Conjugal”, a obra estreou como “Leonore”, de onde vêm o título da Abertura da qual tratamos aqui.

Na verdade, trataria-se de uma Abertura de ópera, se Beethoven não a tivesse substituído pela Abertura “Fidelio” em 1814. Poderíamos também classificar a obra como um Poema Sinfônico, uma vez que ela resume o drama sem o uso de palavras. Mas as qualidades a mantiveram no repertório como uma Abertura de Concerto, embora esse gênero ainda não existisse quando ela foi criada. O maestro Furtwängler criou a prática de re-inserir o trecho na ópera, mas antes do terceiro ato, para antecipar-lhe em drama o que irá acontecer na resolução da história.

Dramaticamente concisa, a “Leonore 3” nos conta a saga desta heroína que está em busca de seu marido, um prisioneiro político, mantido em cárcere secreto de maneira ilegal por seu algoz, Don Pizarro. Leonore desfarça-se de homem e sob o nome de “Fidelio” — denominação que evidencia o caráter fiel e leal da personagem — vai trabalhar na prisão onde ela desconfia que irá encontrar o marido.

Beethoven estabelece com maestria o clima de suspense e angústia de Leonore, e nos coloca a par de sua aventura no desenrolar da música. Ali estão a tensão da personagem título, sua alegria pela descoberta do marido, imediatamente seguida da preocupação e ansiedade por conseguir retirá-lo dali em tempo de evitar sua morte. Num determinado momento da peça, ouvimos de longe o chamado de um trompete: é, como na ópera, o anúncio da chegada do governador Don Fernando, que irá trazer a solução para a situação. A partir deste toque, feito à distância (e não no palco onde se posta a orquestra), a música se aclara, a luminosidade vai dominando a obra até a conclusão solar e triunfante.

É curioso notar que toda esta temática de amor e fidelidade é descrita por um homem que nunca concretizou uma relação amorosa plenamente, sempre atento à mulheres impossíveis a ele, pela posição social, ou por já estarem comprometidas...
   
© RAFAEL FONSECA