Préludes pour piano, Deuxième Livre
Compositor: Claude Debussy
Data da composição: fins de 1912 até abril de 1913
Estréia: 5 de abril de 1913 — Paris, pelo pianista Ricard Viñes
Duração: cerca de 40 minutos
Efetivo: piano
Compositor: Claude Debussy
Data da composição: fins de 1912 até abril de 1913
Estréia: 5 de abril de 1913 — Paris, pelo pianista Ricard Viñes
Duração: cerca de 40 minutos
Efetivo: piano
No dia 5 de abril de 1913, na Sala da Sociedade de Concertos do Conservatório de Paris, o pianista catalão Ricard Viñes, então uma espécie de pianista oficial de Debussy, apresentou ao público, pela primeira vez, alguns dos Prelúdios do recém-terminado Livro II (há um primeiro livro com 12 Prelúdios, de 1909).
Sucedendo dois importantes conjuntos de Prelúdios na história, o de Bach, para órgão (mas absorvido pelos pianistas para o repertório do instrumento) e os de Chopin, Debussy não se preocupou, como seus antecessores, em criar uma seqüência com coerência calcada na tonalidade das peças. Elas talvez nem tenham sido pensadas para a apresentação como conjunto (embora muitas vezes assim apareçam nos recitais), e sua conexão se dá por meio de uma subjetividade e introspecção comum a todos os trechos. Ao contrário de Bach, que explora a técnica do solista, e Chopin, que mormente exige expressividade e densidade interpretativa, os Prelúdios de Debussy demandam um mergulho profundo por parte do solista nesse universo aquoso, algo devaneador, com divagações que somente expertise técnica e inteligência estética não serão suficientes. Aqui, é preciso rendição da alma.
Por essa razão, decidi oferecer uma descrição mais desprendida de academicismo e fui em busca de um significado mais íntimo, a partir da minha percepção. São 12 prelúdios na seguinte ordem:
1. Brouillards: Modéré, extrêmement égal et léger
(Névoas: Moderado, extremamente constante e leve) — cerca de 3 minutos
Uma peça que exige enorme controle do pianista para conseguir o efeito de bruma enevoada desejado. Um sobrevôo suave por sonhos e desejos, reminiscências de um romance distante, e a bruma que tudo encobre...
2. Feuilles mortes: Lent et mélancolique
(Folhas secas: Lento e melancólico) — cerca de 3 minutos
A atmosfera do outono europeu, folhas secas amareladas e avermelhadas cobrem o chão. É uma clara citação ao trecho "Les sons et les parfums tournement dans l'air du soir" (Os Sons e perfumes no ar da noite) do Primeiro Livro de Prelúdios, de 1909. A atmosfera de sonho continua, porém mais apreensiva.
3. La Puerta del Vino: Mouvement de habanera
(A Porta do Vinho: Movimento de habanera) — cerca de 4 minutos
Este prelúdio traz ao ciclo um colorido espanhol, e a inspiração é à Porta de entrada do Palácio da Alhambra, em Granada. Temos ao fundo a marcação típica de uma habanera, mas por cima o clima de dúvida e apreensão impõe-se, como se tirasse o ouvinte do meramente descritivo e o colocasse como observador de um ponto-de-vista distante.
4. Les fées sont d'exquises danseuses: Rapide et léger
(As fadas são excelentes dançarinas: Rápido e ligeiro) — cerca de 3 minutos
Uma passagem de delicada beleza, leve e ágil. As fadas rodopiam, e graciosamente alçam vôo, tirando os pés do chão. Sua coreografia inclui elipses no ar, voltam a tocar o solo como se nada pesassem.
5. Bruyères: Calme — Doucement expressif
(Brejos: Calmo — Docemente expressivo) — cerca de 3 minutos
A paisagem é inglesa, e o brejo, com suas plantas de umidade e flores rústicas é retratado com melodia pastoral, cujo caráter campestre é lindamente naïve, num trecho de maior franqueza e emoções mais simples.
6. Général Lavine: Eccentric, Dans le style et le mouvement d'un Cake-Walk
(General Lavine: Excêntrico, com o estilo e o movimento de uma Cake-walk) — cerca de 3 minutos
O retrato jocoso e animado do malabarista estadunidense Eduard Lavine, um sucesso da época em apresentações do Teatro do Champs-Élysées. O cake-walk (passo do bolo) com a qual Debussy quer que o intérprete inspire-se é dança originária dos escravos norte-americanos, que nos concursos nos quais se premiava o dançarino com um pedaço de bolo (iguaria rara para os negros naquelas condições), venciam imitando as danças de origem européia com exagero e humor; com o tempo e a libertação dos afro-descebdentes, o cake-walk daria origem ao ragtime.
7. La terrasse des audiences du clair de lune: Lent
(O terraço para assistir à luz do luar: Lento) — cerca de 4 minutos
Inspirada numa canção infantil francesa, "À luz do luar", um trecho de grande complexidade, cheio de subterfúgios, com alterações de ânimo, arroubos suaves difíceis de construir. A luz da lua cheia banha a vista, escondendo medos nas sombras, mudando a cor das coisas, criando uma aura azulada, evocando dúvidas infantis.
8. Ondine: Scherzando
(Ondine: brincando) — cerca de 3 minutos e meio
Inspirado nas figuras do ilustrador inglês Arthur Rackham para o livro "Undine", conto-de-fadas escrito por Friedrich de la Motte Fouqué (com origem na história da Pequena Sereia). A ninfa do Danúbio, Undine, nada desesperada nas águas da incerteza, apaixonada por um mortal, o Cavaleiro Huldebrand, com quem vai se casar para ganhar uma alma humana.
9. Hommage à S. Pickwick, Esq. P.P.M.P.C: Grave
(Homenagem a Pickwick: Gravemente lento) — cerca de 2 minutos e meio
Referência direta ao personagem de Charles Dickens, do livro "The Pickwick Papers" e a sigla quer dizer "President and Permanent Member of the Pickwick Club". A trajetória do Sr. Pickwick e seus três pupilos, que viajam pelo interior da Inglaterra em busca de descobertas científicas e de desvendar o comportamento humano, traz fortes críticas à sociedade vitoriana. Nessa personificação musical do personagem, até mesmo ecos de "God save the Queen" aparecem!
10. Canope: Très calme et doucement triste
(Canopo: Muito calmo de docemente triste) — cerca de 2 minutos e meio
Descrição do Canopo, a urna funerária egípcia em forma de vaso. Um movimento lúgubre, secamente melancólico, quase desesperançoso.
11. Les tierces alternées: Modérément animé
(Terças alternadas: Moderadamente animado) — cerca de 3 minutos
Em forma de Estudo (que antecipa os seus Estudos de 1915), trabalha os intervalos de terça (dois tons inteiros entre duas notas) num crescente animado e vivo, usando pouco material melódico, quase minimalista.
12. Feux d'artifice: Modérément animé
(Fogos-de-artifício: Moderadamente animado) — cerca de 5 minutos
Para encerrar o ciclo, um desafio monumental ao solista: harpejos, acordes salteados, velocidade... tudo com muito brilho e verve. Os fogos-de-artifício estocam no céu, desenham sonhos, iluminam o futuro, exaltam as cores, desmancham-se efêmeros, mas inesquecíveis!
Sucedendo dois importantes conjuntos de Prelúdios na história, o de Bach, para órgão (mas absorvido pelos pianistas para o repertório do instrumento) e os de Chopin, Debussy não se preocupou, como seus antecessores, em criar uma seqüência com coerência calcada na tonalidade das peças. Elas talvez nem tenham sido pensadas para a apresentação como conjunto (embora muitas vezes assim apareçam nos recitais), e sua conexão se dá por meio de uma subjetividade e introspecção comum a todos os trechos. Ao contrário de Bach, que explora a técnica do solista, e Chopin, que mormente exige expressividade e densidade interpretativa, os Prelúdios de Debussy demandam um mergulho profundo por parte do solista nesse universo aquoso, algo devaneador, com divagações que somente expertise técnica e inteligência estética não serão suficientes. Aqui, é preciso rendição da alma.
Por essa razão, decidi oferecer uma descrição mais desprendida de academicismo e fui em busca de um significado mais íntimo, a partir da minha percepção. São 12 prelúdios na seguinte ordem:
1. Brouillards: Modéré, extrêmement égal et léger
(Névoas: Moderado, extremamente constante e leve) — cerca de 3 minutos
Uma peça que exige enorme controle do pianista para conseguir o efeito de bruma enevoada desejado. Um sobrevôo suave por sonhos e desejos, reminiscências de um romance distante, e a bruma que tudo encobre...
2. Feuilles mortes: Lent et mélancolique
(Folhas secas: Lento e melancólico) — cerca de 3 minutos
A atmosfera do outono europeu, folhas secas amareladas e avermelhadas cobrem o chão. É uma clara citação ao trecho "Les sons et les parfums tournement dans l'air du soir" (Os Sons e perfumes no ar da noite) do Primeiro Livro de Prelúdios, de 1909. A atmosfera de sonho continua, porém mais apreensiva.
3. La Puerta del Vino: Mouvement de habanera
(A Porta do Vinho: Movimento de habanera) — cerca de 4 minutos
Este prelúdio traz ao ciclo um colorido espanhol, e a inspiração é à Porta de entrada do Palácio da Alhambra, em Granada. Temos ao fundo a marcação típica de uma habanera, mas por cima o clima de dúvida e apreensão impõe-se, como se tirasse o ouvinte do meramente descritivo e o colocasse como observador de um ponto-de-vista distante.
4. Les fées sont d'exquises danseuses: Rapide et léger
(As fadas são excelentes dançarinas: Rápido e ligeiro) — cerca de 3 minutos
Uma passagem de delicada beleza, leve e ágil. As fadas rodopiam, e graciosamente alçam vôo, tirando os pés do chão. Sua coreografia inclui elipses no ar, voltam a tocar o solo como se nada pesassem.
5. Bruyères: Calme — Doucement expressif
(Brejos: Calmo — Docemente expressivo) — cerca de 3 minutos
A paisagem é inglesa, e o brejo, com suas plantas de umidade e flores rústicas é retratado com melodia pastoral, cujo caráter campestre é lindamente naïve, num trecho de maior franqueza e emoções mais simples.
6. Général Lavine: Eccentric, Dans le style et le mouvement d'un Cake-Walk
(General Lavine: Excêntrico, com o estilo e o movimento de uma Cake-walk) — cerca de 3 minutos
O retrato jocoso e animado do malabarista estadunidense Eduard Lavine, um sucesso da época em apresentações do Teatro do Champs-Élysées. O cake-walk (passo do bolo) com a qual Debussy quer que o intérprete inspire-se é dança originária dos escravos norte-americanos, que nos concursos nos quais se premiava o dançarino com um pedaço de bolo (iguaria rara para os negros naquelas condições), venciam imitando as danças de origem européia com exagero e humor; com o tempo e a libertação dos afro-descebdentes, o cake-walk daria origem ao ragtime.
7. La terrasse des audiences du clair de lune: Lent
(O terraço para assistir à luz do luar: Lento) — cerca de 4 minutos
Inspirada numa canção infantil francesa, "À luz do luar", um trecho de grande complexidade, cheio de subterfúgios, com alterações de ânimo, arroubos suaves difíceis de construir. A luz da lua cheia banha a vista, escondendo medos nas sombras, mudando a cor das coisas, criando uma aura azulada, evocando dúvidas infantis.
8. Ondine: Scherzando
(Ondine: brincando) — cerca de 3 minutos e meio
Inspirado nas figuras do ilustrador inglês Arthur Rackham para o livro "Undine", conto-de-fadas escrito por Friedrich de la Motte Fouqué (com origem na história da Pequena Sereia). A ninfa do Danúbio, Undine, nada desesperada nas águas da incerteza, apaixonada por um mortal, o Cavaleiro Huldebrand, com quem vai se casar para ganhar uma alma humana.
9. Hommage à S. Pickwick, Esq. P.P.M.P.C: Grave
(Homenagem a Pickwick: Gravemente lento) — cerca de 2 minutos e meio
Referência direta ao personagem de Charles Dickens, do livro "The Pickwick Papers" e a sigla quer dizer "President and Permanent Member of the Pickwick Club". A trajetória do Sr. Pickwick e seus três pupilos, que viajam pelo interior da Inglaterra em busca de descobertas científicas e de desvendar o comportamento humano, traz fortes críticas à sociedade vitoriana. Nessa personificação musical do personagem, até mesmo ecos de "God save the Queen" aparecem!
10. Canope: Très calme et doucement triste
(Canopo: Muito calmo de docemente triste) — cerca de 2 minutos e meio
Descrição do Canopo, a urna funerária egípcia em forma de vaso. Um movimento lúgubre, secamente melancólico, quase desesperançoso.
11. Les tierces alternées: Modérément animé
(Terças alternadas: Moderadamente animado) — cerca de 3 minutos
Em forma de Estudo (que antecipa os seus Estudos de 1915), trabalha os intervalos de terça (dois tons inteiros entre duas notas) num crescente animado e vivo, usando pouco material melódico, quase minimalista.
12. Feux d'artifice: Modérément animé
(Fogos-de-artifício: Moderadamente animado) — cerca de 5 minutos
Para encerrar o ciclo, um desafio monumental ao solista: harpejos, acordes salteados, velocidade... tudo com muito brilho e verve. Os fogos-de-artifício estocam no céu, desenham sonhos, iluminam o futuro, exaltam as cores, desmancham-se efêmeros, mas inesquecíveis!
© RAFAEL FONSECA
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