Compositor: Anton Bruckner
Número de catálogo: WAB 108
Data da composição: de julho de 1884 a 10 de agosto de 1887; segunda versão de outubro de 1887 a 10 de março de 1890
Estréia: 18 de dezembro de 1892 — Viena, Hans Richter regendo a Filarmônica de Viena
(a estréia da primeira versão seria somente a 2 de setembro de 1973, em Londres)
Duração: de 1 hora e 15 minutos a 1 hora e 40 minutos
Efetivo: 3 flautas (uma alternando com flauta-piccolo), 3 oboés, 3 clarinetas, 3 fagotes (um alternando com contra-fagote), 4 trompas (todas alternando com 2 tubas-wagnerianas tenor e 2 tubas-wagnerianas baixo), 3 trompetes, 3 trombones, 1 tuba contra-baixo, tímpano, pratos, triângulo, 3 harpas e as cordas (primeiros- e segundos-violinos, violas, violoncelos e contra-baixos)
Número de catálogo: WAB 108
Data da composição: de julho de 1884 a 10 de agosto de 1887; segunda versão de outubro de 1887 a 10 de março de 1890
Estréia: 18 de dezembro de 1892 — Viena, Hans Richter regendo a Filarmônica de Viena
(a estréia da primeira versão seria somente a 2 de setembro de 1973, em Londres)
Duração: de 1 hora e 15 minutos a 1 hora e 40 minutos
Efetivo: 3 flautas (uma alternando com flauta-piccolo), 3 oboés, 3 clarinetas, 3 fagotes (um alternando com contra-fagote), 4 trompas (todas alternando com 2 tubas-wagnerianas tenor e 2 tubas-wagnerianas baixo), 3 trompetes, 3 trombones, 1 tuba contra-baixo, tímpano, pratos, triângulo, 3 harpas e as cordas (primeiros- e segundos-violinos, violas, violoncelos e contra-baixos)
Após sucessivos fracassos e críticas desfavoráveis com Sinfonias anteriores, Bruckner havia conhecido o triunfo com a Sétima, obra aceita e acolhida desde a estréia, e tocada com enorme sucesso pelo amigo Hermann Levi, regente da temporada de concertos em Munique. Foi para ele que Bruckner enviou a recém-terminada Oitava (em sua primeira versão). Levi, sabendo da fragilidade emocional do amigo, não teve como dizer-lhe que a obra lhe era estranha e difícil; encarregou um amigo comum, Franz Schalk, de dar a Bruckner o aviso da recusa.
Imediatamente a seguir, Bruckner pôs-se a re-escrever a obra, fazendo inúmeras alterações significativas, como o aumento da orquestração (madeiras a 3, ao invés de 2 cada), o encurtamento do final do primeiro movimento, que não mais terminaria estrondosamente, mas sim dissolvendo-se em pianissimo; mudança do tema da parte central do Scherzo; e cortes no Adagio e mais radicais no movimento final. Terminada a segunda versão em 1890, 3 anos depois da outra, temos um Bruckner deprimido e numa febre de remanejamentos — resolvera revisar também a Terceira e Primeira Sinfonias — que vai resultar na impossibilidade de terminar sua Nona e última Sinfonia.
Como Hermann Levi encontrava-se seriamente enfermo, encarregou seu discípulo, o então jovem maestro Feliz von Weingartner, de reger a obra. Mas este experimentou com relação à obra o mesmo estranhamento que seu mestre, achava tudo muito difícil para seus músicos em Mannheim, e dando desculpas ao pobre compositor, foi adiando a estréia. Até que Hans Richter, regente da série de assinaturas da Filarmônica de Viena, concordou em incluir a Oitava na programação.
A estréia em 1892 foi a consagração que Bruckner esperara por toda a vida. Ainda que alguns deixassem a sala ao fim de cada movimento — o que, para ele, era mais que comum —, o fim da apresentação veio encontrar Johannes Brahms, conhecido rival de Bruckner, aplaudindo de pé. O compositor Hugo Wolf, presente à estréia, escreveu que "esta Sinfonia é a criação de um gigante, que excede em dimensão espiritual, em fecundidade e grandeza [...]". De fato esta Oitava ultrapassa todas as obras sinfônicas escritas até então em sua imensidão. É colossal, titânica.
I. Allegro moderato (Rápido porém moderado) — cerca de 17 minutos
As cordas graves abrem a obra, com comentários dos sopros, sob uma aura de mistério e fascinação religiosa. Embora a semelhança seja muito sutil, o tremular dos violinos como pano de fundo para as erupções titânicas da orquestra remetem à Nona de Beethoven. Os chamados agressivos da fanfarra, a construção de idéias ciclópicas e acachapantes, sempre com um fundo angustiado e nervoso dos violinos, deram à obra um apelido, por vezes usado mas hoje abolido: Apocalíptica. O desenvolvimento desse primeiro movimento é de tal ordem impactante, que alguns autores quiseram ver nele "batalhas cósmicas", mas ele é a fusão luminosa da perfeição formal do Classicismo de Haydn com o êxtase orgásmico do genial Wagner (sob o manto da religiosidade católica quase fanática do autor). Bruckner soube aqui, apontar um novo caminho para a Sinfonia, inicialmente seguido por seu admirador Gustav Mahler, mas feito inviável pelas duas Guerras do século que estava por nascer.
II. Scherzo: Allegro moderato — Langsam (Divertido: Rápido porém moderado — Lentamente) — cerca de 17 minutos
Mais uma semelhança com a Nona de Beethoven, segue-se ao primeiro movimento não o movimento lento, mas sim um poderosíssimo Scherzo, o maior e mais interessante de Bruckner. Anotado na partitura original, havia a frase "Michael sonhe em voltar à sua terra", uma alusão à figura folclórica germânica, extremamente ligada à terra e de personalidade forte. Seria este um olhar do homem de natureza simples ao passado rural, a infância em Sankt Florian, a tradução da alma interiorana de Bruckner? Poderia, mas num Scherzo tão enfático? Bem, a parte central — o chamado Trio — é lindamente desenhada com uma melodia rústica, com auxílio das harpas para conferir um toque sonhador, na única obra que Bruckner faz uso desse delicado instrumento. O caráter monumental e misterioso do movimento anterior não saíram de cena.
III. Adagio: Feierlich langsam, doch nicht schleppend (Com calma: Lentamente solene, sem arrastar) — cerca de 30 minutos
O mais longo Adagio escrito até então, e talvez sua dimensão e peso dramático é que tenham feito o compositor decidir antecipar o Scherzo na ordem interna da Sinfonia, é de beleza dilacerada. A aura de mistério persiste, mas o que esse terceiro movimento evoca mesmo é a dúvida, traço da personalidade do compositor tão marcante. Todo o arco desse Adagio soa como uma gigantesca pergunta. O momento de "aparição" da melodia das harpas, apoiada sobre espaçosos acordes de violinos, é transcendental. Ainda que sublime, ele não responde à pergunta, que permanece no ar, dolorosamente. A beleza das frases — reforçada pelo uso das tubas wagnerianas — encobre a angústia, mas a fé inabalável do compositor permanece, ainda que a pergunta contida nesse movimento jamais será respondida, como mostra o fatídico movimento a seguir.
IV. Finale: Feierlich, nicht schnell (Final: Solene, sem apressar) — cerca de 24 minutos
Um vaticínio a respeito dos rumos que o Império no qual Bruckner vivia, uma união de povos em torno dos Habsburgo por quase 5 séculos, que iria esfacelar-se após a Primeira Guerra de 1918? Afinal, a dedicatória da Oitava era em honra de Sua Majestade o Imperador Francisco José. Ou a premonição a respeito de si próprio, de sua última Sinfonia, a Nona, que permaneceria inacabada? Conjecturas... O fato é que nada poderia ser mais poderoso que o magnífico e contundente Adagio anterior, mas este Finale faz jus e recobre, vulcânico, tudo à sua volta. Com força colossal, a fanfarra impõe-se, mas é admirável o uso das cordas, que precedem e embasam essa fanfarra de maneira assustadoramente grande. Os tímpanos atacam com fúria. Logo a atmosfera se acalma um pouco, como se a orquestra recordasse o início da Sétima Sinfonia, anterior a esta, que abre liricamente numa fase de violoncelos. Segue-se um curto momento de gracejo dos sopros, logo dando lugar a um discurso impositivo das cordas, tendo os metais a lhes dar substância. O movimento finale, todo, é de grande complexidade. Inútil tentar perceber, parte a parte, cada passagem; melhor entregar-se à furiosa correnteza que leva o ouvinte em direção à imensa coda (passagem que antecede e prepara a conclusão de uma obra), na qual temas dos movimentos anteriores são lembrados (outra semelhança com a Nona de Beethoven), porém postos em contraponto sem uma repetição evidente. O Finale da Oitava não é somente a conclusão de uma Sinfonia, é o ponto final a uma tradição firmada por Haydn no final do século XVIII, e cuja descendência vai sobreviver no século XX através do ramo imposto por Beethoven (em Mahler, em Sibelius e em Shostakovich); mas aquela Sinfonia tradicional, nascida Clássica nas mãos de Haydn, experimentada por Schubert e Mendelssohn, e levada aos limites pelo próprio Bruckner, essa extingue-se aqui.
© RAFAEL FONSECA
Essa obra é divina! Divina!
ResponderExcluirConheci a nona sinfonia de Bruckner antes dessa e não imaginei que pudesse haver outra composição que a superasse! Mas eis que me dediquei a ouvir a oitava e fui arrebatado!
Essa obra me dilacera, me esmaga, me despedaça, me atravessa! Impossível não chorar... Ouço o adágio umas duas ou três vezes todos os dia.
Isso, pra mim, é a essência da Beleza da Música.