(1845) SCHUMANN Concerto para piano

Compositor: Robert Schumann
Número de catálogo: Opus 54
Data da composição: 1841 (movimento I); 1845 (movimentos II e III)
Estréia: 1 de janeiro de 1846 — em Leipzig, Clara Schumann ao piano, com a Orquestra da Gewandhaus sob regência de Ferdinand Hiller

Duração: cerca de 30 minutos
Efetivo: 2 flautas, 2 oboés, 2 clarinetas, 2 fagotes, 2 trompas, 2 trompetes, tímpano, cordas (primeiros-violinos, segundos-violinos, violas, violoncelos, contra-baixos)

Planejado inicialmente como uma "Phantasie" para piano e orquestra, o primeiro movimento chegou a ser publicado como Opus 48 em 1841, e foi escrito durante a conclusão da Primeira Sinfonia. A esposa do compositor, Clara, uma das melhores pianistas da Europa naquele tempo, viu naquela Fantasia um primeiro movimento de Concerto e pediu que o marido acrescentasse os movimentos seguintes, o que foi feito entre 1842 e 1845.

I. Allegro affettuoso (Rápido e afetuosamente) — cerca de 16 minutos
Um curto e incisivo acorde da orquestra é seguido de um ataque em 3 partes descendentes do piano, e a melodia principal da obra é exposta, não pelo piano, mas pelo oboé. Logo o piano lhe segue, deixando claro a posição do instrumento solista dentro dessa obra sinfônica, mais de conciliador das idéias musicais que de combatente heróico em oposição à orquestra, como revolucionou Beethoven em seus últimos Concertos de númeração ímpar. Dito isso, podemos dizer que este é um Concerto ligado à beleza estética do Classicismo pela elegância que lembra Haydn, a Beethoven se pensamos no Quarto Concerto — o número 4 liga Beethoven e Schumann também pela Quarta Sinfonia, que o segundo compositor chamava de "a bela grega" e na qual certamente se inspirou para suas obras sinfônicas — e, voltando ao caráter da obra, é inovador ao evitar o virtuosismo contestatório que Beethoven imprimira em seu Concerto n. 5, conhecido como "Imperador" (que vai influenciar os Concertos de Liszt e Tchaikowsky) e colocar o solista como protagonista de um fluxo sinfônico por excelência, sem preocupar-se em destacá-lo por demais no discurso. O piano é líder, mas lidera de dentro da orquestra. Liszt, herdeiro de primeira hora do efeito arrebatador da música de Beethoven, brincou jocosamente com o colega, dizendo a Schumann: — "finalmente, você fez um um concerto para piano sem piano!", reclamando assim da falta de virtuosismo na parte solista e fazendo graça com a peça para piano-solo "Concerto sem orquestra" escrito por Schumann em 1836. O piano passeia por inspiradíssimas melodias, num espaçoso cenário idílico, cheio de evocação e sonho, bem ao gosto da burguesia ascendente da época, ávida por um arrebatamento calmo e tocante.

II. Intermezzo: Andantino grazioso (Intermédio: Sem arrastar e graciosamente) — cerca de 5 minutos
No breve trecho central, piano e orquestra dialogam em delicada tensão, numa espécie de dueto no qual os violoncelos tem papel fundamental com uma frase plena de êxtase e riqueza melódica. É certo que daqui por diante — e Schumann preferia ver nos programas da época apenas dois movimentos listados, o Allegro inicial seguido por "Andantino e Finale" — os dois trechos encadeados, acrescentados 4 anos depois, muito têm de Clara, a defensora dessa extensão, pianista cada vez mais famosa e esposa amantíssima do não menos devotado compositor. 

— attacca:
III. Allegro vivace (sem interrupção: Rápido e vivo) — cerca de 10 minutos
Revisitando o tema inicial com grande exuberância, o Finale explode após uma suave transição dos sopros, criando a atmosfera festiva e dançante que terá, ainda, um novo tema incluído no jogo musical, cheio de colorido e originalidade. O que impressiona, sabendo-se da distância de 4 anos entre esse trecho e o movimento inicial, é o perfeito entrosamento entre as partes, sem nada que denuncie a existência da Fantasia que Schumann inicialmente elaborou. Chegamos ao final da obra experimentando um fluxo musical tão natural, em ondas melódicas que quebram a linguagem algo estanque oriunda do Classicismo, pela primeira vez dando lugar a transições sutis — influência de Wagner, por certo — numa viagem cheia de episódios memoráveis.

© RAFAEL FONSECA

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