(2013) STAAR "Reciclagem do Tempo"

Time Recycling — for large orchestra

Compositor: René Staar
Número de catálogo: Opus 22-n
Data da composição: 2013
Estréia: 17 de maio de 2014 em Viena, Musikverein, Großer Saal — Semyon Bychkov regendo a Filarmônica de Viena

Duração: cerca de 22 minutos

Segundo o compositor (em seu website) foi a a própria intransigência do Tempo — ou melhor, da compreensão humana do que é Tempo — a inspiração para escrever "Time Recycling". Sua concepção  para esta obra que podemos considerar um Poema Sinfônico levou em consideração 4 abordagens que o homem faz do tempo:

— O Passado remoto, possível de observação através das estrelas, uma vez que a luz que a nós as revela leva muito tempo até chegar aqui;
— O caráter da repetição, da recorrência do tempo (a passagem dos dias, as estações, os ciclos);
— A Memória, que tem como função preservar o passado e trazê-lo à tona para que o possamos experimentar novamente;
— A Internet, ferramenta da atualidade que permite acesso imediato ao passado e influência no futuro.

O compositor declara ter se inspirado na capacidade individual dos músicos da Filarmônica de Viena e em dois colegas, regentes: Semyon Bychkov, por seu lirismo (sobretudo ao compor o terceiro movimento) e Gustavo Dudamel, por seu senso rítmico (sobretudo no quarto movimento, onde aparecem várias alusões à música latino-americana).

São 4 movimentos tocados dois a dois, sem interrupção em cada uma das duas partes:

PARTE I
I. Déjà vu (Sensação de "Já visto")
II. Perpetua mobilia (Movimentos infinitos)
A música se inicia reproduzindo pequenas explosões em cadeia, dando a impressão de formar uma estrutura, e depois sobre ela, como o vento, uma linha melódica mais concreta se estabelece: todo esse jogo quer mimetizar o Big-Bang, teoria que explica a formação do Universo.

O segundo movimento estabelece, em repetição, 3 figuras rítmicas que se afastam à medida que acontecem, representando as transformações impostas à matéria gerada pela energia pura (no primeiro movimento), pela matemática que rege esses acontecimentos. Após distender os sons ao limite, a ponto do ouvinte ter a impressão de os mesmos irão escapar de tão distantes, um evento representando a gravidade traz de volta as sonoridades e faz com que elas movimentem-se rapidamente uma sobre as outras, numa dança frenética, até todas elas se condensarem num imenso pulsar sonoro, que logo será subtraído, como se toda a energia se condensasse num Buraco-Negro.

PARTE II
III. Memories (Memórias)
IV. Global Village — Parodies (Aldeia global — Paródias)
O terceiro movimento, primeiro desta parte, traz à luz as reminiscências da infância e faz uso da cadência das Canções de Ninar para criar tal atmosfera. Elementos musicais que simbolizam os elementos da Natureza — Floresta, ar, vento e água, segundo o próprio Staar — perpassam a música como "em um Conto de fadas".

No último movimento teremos um olhar histórico, tomando por base o coro religioso da Idade Média que por 5 séculos desenvolveu-se lentamente até chegar à polifonia renascentista que fez, posteriormente, florescer toda a música orquestral ocidental: tal evolução é apresentada em grande aceleração. Daí o compositor investe no segundo trecho deste finale, as Paródias: sons urbanos sobrepostos a ecos de samba e batucada, canções características (de blues a bossa-nova), lampejos da música de outros compositores, fanfarras e música folclórica. Todo esse material irá convergir para um hino-coral "Ao Amor", retirado de uma dança de casamentos típica do Leste Europeu.

© RAFAEL FONSECA

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Por favor, ao postar seu comentário, não deixe de incliur seu endereço eletrônico, para que possamos manter contato! (R. F.)