(1806) BEETHOVEN Sinfonia n. 4

Compositor: Ludwig van Beethoven
Número de catálogo: Opus 60
Data da composição: 1806
Estréia: ? de março de 1807 — Palácio do Príncipe Lobkowitz, Viena

Duração: de 30 a 36 minutos
Efetivo: 1 flauta, 2 oboés, 2 clarinetas, 2 fagotes, 2 trompas, 2 trompetes, tímpano, cordas (primeiros e segundos violinos, violas, violoncelos, contra-baixos)

Depois de escrever uma obra tão grandiosa e impactante como a "Heróica", sua Terceira Sinfonia, era de se esperar algo ainda mais estrondoso. Mas esse não é o espírito da Quarta. Muitos vêem nela um recuo estético, uma Sinfonia que procura re-encontrar-se com a beleza elegante das obras de Haydn, uma obra mais modesta e menos revolucionária.

De fato, estamos diante de uma música — em se tratando de Beethoven — mais comportada. Em relação à Sinfonia anterior, até a instrumentação é reduzida: menos 1 flauta e 1 trompa no conjunto. Mas é um equívoco vê-la como um retrocesso estilístico. A Quarta guarda seus mistérios.

I. Adagio — Allegro vivace
(Confortavelmente — Rápido e vivo) — cerca de 10 minutos
Beethoven foi o primeiro compositor a perceber que a sonoridade, além da beleza e da harmonia, tinha um outro impacto sobre a audiência, que por vezes não era provocado por frases musicais em si, mas por efeitos... Efeitos sonoros. E é esse o clima do Adagio inicial da Quarta: um efeito. Um suave pizzicato desencadeia a atmosfera criada por cordas e sopros, um clima de apreensão e suspense. Certamente, esse homem que nunca conseguiu adequar-se ao idioma musical da ópera estava aqui investigando como criar determinadas emoções por mera sugestão sonora. E que resultado! No clímax da introdução, as cordas atingem o topo da montanha ajudadas pela fanfarra, e logo a seguir  ouvimos o desabrochar do Allegro, um tema irresistível, ágil, jovial e arrebatador. Schumann, décadas depois, a chamaria de "a bela grega", por sua alegria; e talvez seja por isso que ela contrasta tanto com as Sinfonias antes e depois dela, a Terceira e a Quinta, pois ambas abordam emoções mais carregadas, enquanto esta quer apenas expor sentimentos mais simples.

II. Adagio
(Confortavelmente) — cerca de 10 minutos
Deixemos espaço ao compositor francês Hector Berlioz, que via neste trecho algo da ordem do divino: — "Esse movimento ultrapassa tudo o que a mais viva imaginação jamais poderia sonhar, em ternura e pura volúpia". Outra vez está presente o efeito, que aqui se caracteriza pela suspensão do tempo, como se houvesse coisas acontecendo em dois planos; frases musicais bóiam, flutuam, enquanto outros instrumentos marcam a passagem do tempo. Aqui os instrumentos de madeira (flauta, oboés, fagotes e clarinetas) criam a poética do trecho, em participações belíssimas.

III. Allegro vivace
(Rápido e vivo) — cerca de 6 minutos
Embora a partitura não deixe explícito, trata-se de um vigoroso Scherzo; bem menos urgente que o Scherzo anterior, da Sinfonia "Heróica", este irradia mais alegria, como aliás é o escopo de toda a obra.

IV. Allegro ma non troppo
(Rápido mas nem tanto) — cerca de 7 minutos
O Finale confirma o despojamento dramático da Sinfonia e sua natureza singela. Os temas se sucedem num delicioso rodopio dançante. Somos lançados a pensar na música de Schumann, que sequer ainda havia nascido e cuja primeira obra orquestral importante só apareceria 4 décadas mais tarde, uma música que flui com naturalidade, que busca uma beleza delicada e sem excessos dramáticos.

© RAFAEL FONSECA