(1886) C. FRANCK Sonata para violino e piano

Sonate pour violon et piano

Compositor: César Franck
Número de catálogo: M 8
Data da composição: 1886
Estréia: 16 de dezembro de 1886 — Bruxelas, Musée Moderne de Peinture, Eugène Ysaÿe (violin), Marie-Léontine Bordes-Pène (piano)

Duração: cerca de 30 minutos
Efetivo: violino e piano

A semente foi plantada em 1858, quando Franck prometeu escrever uma Sonata para violino e piano a pedido de Cosima, filha do grande Liszt e à época esposa do renomado regente Hans von Bülow. Mas parece que o agrado à futura Senhora Wagner não motivou o coração do músico, e 28 anos se passaram até que finalmente Franck debruçou-se sobre a composição. Mas dessa vez a motivação de Franck — agora um experiente compositor com seus 63 amos — foi brindar um jovem colega; e foi assim que Eugène Ysaÿe recebeu a Sonata como seu presente de casamento.

Ysaÿe tocou, com a pianista Marie-Léontine, a peça pela primeira vez no Museu Moderno de Pintura (hoje o Museu Real de Belas Artes de Bruxelas). O programa daquela tarde era um pouco longo e a Sonata, peça principal, teria de ser cancelada, pois o fim de tarde estava avançando e as autoridades não queriam permitir acender a iluminação para não colocar em risco as obra de arte do recinto. Ysaÿe e Marie-Léontine decidiram tocar assim mesmo e a Sonata teve de ser executada de memória — pois já não era possível ler as partituras — até terminar em total escuridão, como relatou Vincent d'Indy, presente à ocasião.

Desse momento em diante, estava legado aos violinistas a mais bela e querida Sonata de todo o repertório. Franck, mesmo não sendo um compositor muito dedicado à música de câmara, construiu um monumento perfeito. Ela é a mais tocada e mais gravada das Sonatas para violino, e dela derivam inúmeras versões adaptadas, com transposição da parte do violino para violoncelo, viola, flauta, saxofone e até uma cafona versão cantada por coral.
  
I. Allegretto ben moderato
(Quase rápido, mas bem moderato) — cerca de 6 minutos
A peça se inicia com uma reflexão no violino que logo se transforma numa frase de exaltação, muito romântica, dividida entre violino e piano, de alta expressão romântica. O tema vai evoluindo nessa conversa entre a pergunta meditativa e a resposta derramada, lírica e poética. Os dois instrumentos se comunicam complementarmente, e nisso vê-se um pouco da influência das grandes Sonatas clássicas de Mozart e Beethoven, na dinâmica desse diálogo. 

II. Allegro
(Rápido) — cerca de 8 minutos
A atmosfera muda completamente com esse movimento rápido e turbulento, dando-nos a impressão que esta é a verdadeira frase de abertura da obra, e o movimento precedente fora sua introdução. Mais uma vez, na estruturação do diálogo, percebe-se a influência Clássica, mas a verve com que violino e piano entoam suas frases é Romântica na essência, num discurso cheio de emotividade e força. Um rápido episódio contrastante nos coloca de volta no caráter meditativo do movimento anterior, mas logo a música volta ao grandiloquente tom épico que é a tônica desse trecho.

III. Recitativo-Fantasia: Ben moderato — Largamente — Molto vivace
(Recitado, Fantasioso: Bem moderado — Lentamente — Muito vivaz) — cerca de 7 minutos
O piano faz uma introdução apreensiva, o violino responde sozinho, como num improviso (lembrando um pouco a Kreutzer de Beethoven). Tem então início uma conversa densa entre os instrumentos. É, do ponto-de-vista do material explorado e da maneira como essa evolução acontece, o movimento mais rico da Sonata. Aqui a estruturação é menos formal (não remetendo mais a um Classicismo como anteriormente) e as frases fluem com mais naturalidade e organicidade. Os temas são de inspiração sem igual, contemplativos e ao mesmo tempo muito introspectivos, e o manancial da tradição da canção francesa se manifesta aqui inequivocamente.

IV. Allegretto poco mosso
(Quase rápido, pouco movimentado) — cerca de 6 minutos
Franck deixa o tema mais fácil, mais querido, para construir este finale. Um tema de grande fluidez melódica (que remete um pouco a Schubert) que cativa a atenção do ouvinte desde as primeiras notas. Esse tema irá evoluindo em imitação canônica (um instrumento imitando o outro) até que temas dos movimentos anteriores — conferindo à obra um caráter cíclico — irão aparecer em citações que mostram ao ouvinte a conexão e derivação que existe entre eles. A melodia alegre de abertura desse movimento dará lugar ao tema reflexivo do primeiro movimento, logo voltando a dar lugar ao tema principal, o que dá ao movimento ares de rondò. Nesse sistema vai aparecer outra vez também o tema do segundo movimento, agora tocado de maneira mais leve, mas o rondò não se realiza, pois logo a conclusão da Sonata é alcançada, rapidamente e com genuína alegria.

© RAFAEL FONSECA


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