(1812) BEETHOVEN Sinfonia n. 8

Compositor: Ludwig van Beethoven
Número de catálogo: Opus 93
Data da composição: de maio a outubro de 1812
Estréia: 27 de fevereiro de 1814 — Redoutensaal, Viena, regência do autor

Duração: cerca de 25 minutos
Efetivo: 2 flautas, 2 oboés, 2 clarinetas, 2 fagotes, 2 trompas, 2 trompetes, tímpano, e as cordas (primeiros-violinos, segundos-violinos, violas, violoncelos, contra-baixos)

É imprescindível se ter em mente, quando se aprecia a Oitava — o "patinho feio" da série — que ela encerra um processo criativo, e, porquê não dizer?, uma trajetória dramática de 12 anos nos quais se apresentaram 8 Sinfonias. E que moutros 12 anos serão necessários para que de sua forja salte a Rainha das Sinfonias, a Nona. A Oitava seria, na minha opinião, um retorno às origens, como que a conclusão de um ciclo, pois a próxima obra (a Nona) já diz respeito a um outro universo. Mas tal retorno não seria meramente mais um gracejo em direção a Haydn — o mestre e professor que o inspirara e dera o molde no qual se formataram a Primeira e a Segunda Sinfonias — mas o fechamento mesmo do ciclo, como que ligando a pontas.

Sua verve é bem-humorada, mas as ironias escondidas podem passar despercebidas. O próprio Beethoven, em vida, cedeu à tentação de chamá-la de "minha pequena Sinfonia", pois se comparada à Sétima, sua contemporânea, ela não busca ocupar espaços com a mesma volúpia, nem leva o ouvinte de roldão em seus ritmos. É uma obra curiosa, ainda incompreendida. Quem se impressiona com o arrebatamento das Sinfonias precedentes pode, num primeiro momento, ressentir-se de sua falta de vigor e potência, sua delicadeza estudada e sua fleuma quase distante. 

I. Allegro vivace e con brio (Rápido, vivo e com brio) — cerca de 9 minutos
Sem muita cerimônia, de maneira festiva e enérgica, Beethoven nos apresenta o primeiro tema logo de cara, sem introdução. Não chega a ser propriamente um movimento de estética antiquada, mas há algo que borbulha um humor do Classicismo. Há lirismo, mas entrecortado por acordes tipicamente beethovenianos, mas estes nunca são estrondosos o suficiente, como se uma barreira comportamental impedisse cair em excessos. A pontuação de leveza fica por conta dos sopros enquanto as cordas se comprometem a levar a música com mais ênfase. É como se o velho Haydn ressuscitasse para imitar jocosamente seu aluno Beethoven.

II. Allegretto scherzando (Sem arrastar, com humor) — cerca de 4 minutos
Um movimento absolutamente inesperado em Beethoven, depois de tudo que ele já havia proposto. E o de menor duração em todas as Sinfonias. Agora é como se Beethoven respondesse à provocação do velho estilo, imitando-o. Evidente que se trata de um movimento genial, mas sua pontuação é tão classicista, sua graça tão elegante, que destoa fortemente, se pensarmos a que ponto a música sinfônica já havia sido levada após a Quinta Sinfonia. O frescor nos remete diretamente aos movimentos lentos de Haydn.

III. Tempo di Minuetto (Ao tempo de um Minueto) — cerca de 5 minutos
Mas não foi Beethoven que sepultou a prática de se colocar Minuetos como terceiros movimentos das Sinfonias? Sim, foi. Mas não nos deixemos enganar: é um Scherzo, embora isso nem seja mencionado no título do movimento. Mas um scherzo muito especial, na verdade um Ländler (dança típica da Áustria que dará origem à valsa). Humor e ironia para, mais uma vez, olhar o passado de forma divertida. 

IV. Allegro vivace (Rápido e vivo) — cerca de 9 minutos
Um movimento de construção sofisticada, embora possa parecer simples. Por vezes a música parece hesitar em prosseguir no caminho escolhido. Mas fica evidente que, em alguns momentos, a orquestra "ri". A atmosfera de jocosidade que dominou a obra persiste, mas é colocada em dúvida. 

Eu arriscaria dizer que na Oitava Beethoven retratou Goethe. Como a catarse de seu encontro com o grande mestre da literatura, ocorrida em Teplitz meses antes, no qual o comportamento áspero e direto do compositor chocou-se com as frivolidades e mesuras à antiga do amado poeta. Detestaram-se, sabemos. Se uma Sinfonia inteira (a Terceira) serviu de enaltecimento a Napoleão e crítica ao Antigo Regime, se outra (a Quinta) buscou o herói que Napoleão deixara de ser ao ser coroado para encontrar forças em si mesmo, se outra ainda (a Pastoral) pode dar voz à natureza, por que não podemos supor que a Oitava fala desse encontro? Arrisco aqui neste texto estar ousando uma associação imprópria, mas ouçam cada um dos quatro movimentos dessa obra tendo em mente um Beethoven pensando em Goethe com certo escárnio...

© RAFAEL FONSECA

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Por favor, ao postar seu comentário, não deixe de incliur seu endereço eletrônico, para que possamos manter contato! (R. F.)