(1875) TCHAIKOWSKY Sinfonia n. 3 "Polonesa"

Polish Symphony — título dado pelo maestro August Manns 

Compositor: Piotr Ilyich Tchaikowsky
Número de catálogo: Opus 29 / ČW 23
Data da composição: 17 de junho a 13 de agosto de 1875
Estréia: 19 de novembro de 1875 em Moscou, regência de Nikolaj Rubinstein

Duração: de 40 a 45 minutos
Efetivo: 1 flauta-piccolo, 2 flautas, 2 oboés, 2 clarinetas, 2 fagotes, 4 trompas, 2 trompetes, 3 trombones, 1 tuba, tímpanos, as cordas (primeiros- e segundos-violinos, violas, violoncelos, contra-baixos)

As três primeiras Sinfonias de Tchaikovsky, incluindo esta, não desfrutam da mesma popularidade e frequência nas salas de concerto que as irmãs posteriores (incluindo a "Manfredo"), pois são Sinfonias mais clássicas e menos, digamos, dramáticas. Mas sua presença escassa no repertório das grandes orquestras é, afirmo sem dúvidas, uma injustiça. O próprio Tchaikovsky reconhecia que ainda faltava atingir certa maturidade na escrita do gênero, mas a beleza das melodias — especialidade deste compositor — poderiam garantir mais execuções destas 3 obras em nossos dias.

Um traço que faz dela a "estranha no ninho" — e que talvez justifique sua relativa impopularidade frente às demais — é a falta de um tema russo na obra. Na estrutura ela lembra mais as Suites clássicas — ou os Divertimentos mozartianos! — com seus 5 movimentos. Talvez fosse proposital, devido ao fascínio que o compositor tinha pela obra de Mozart e a "ambience" do século XVIII. Ele exercitaria essa mesma verve, posteriormente, em suas Variações Rococó.  No plano geral é uma obra bastante otimista, sem inserir a angústia com relação ao futuro que ele demonstraria nas números 4, 5 e 6. E é contemporânea de dois imensos sucesso do autor: o Concerto para piano n. 1 e o balé O Lago dos Cisnes.

A estrutura traz o movimento lento como epicentro, ladeado de dois movimentos em forma de Scherzo e dois Allegros como moldura.

I. Introduzione e Allegro: Moderato assai, Tempo di marcia funebre — Allegro brillante (Introdução e Allegro: Bem moderado, em tempo de marcha fúnebre — Rápido e brilhante) — cerca de 14 minutos
A obra inicia-se tradicionalmente, com introdução lenta, um pouco sombria (marcada Marcha fúnebre), mas que logo desemboca num andamento rápido, cheio de cores e texturas, um dos movimentos sinfônicos mais interessantes do autor. A atmosfera é leve, iluminada, inventiva e naturalmente fluida e cheia de energia. 

II. Alla tedesca: Allegro moderato e semplice
(À maneira germânica: Moderadamente rápido e com simplicidade) — cerca de 7 minutos
Um movimento que lembra suas famosas obras para o balé, cheio de charme e elegância. Sua alegria simples e cativante lembra uma valsa vienense, muito mais que a dança "alta tedesca" (tradicional dança alemã) à qual o título do movimento se refere. 

III. Andante: Andante elegiaco (Andante: Confortavelmente, e queixoso) — cerca de 10 minutos
No coração da Sinfonia, não só por estar posicionado ao centro, mas também pela densidade de suas idéias musicais, está este Andante cheio de questionamentos e com um belo solo de trompa apresentando seu tema principal. Ele não atinge a dramaticidade que o ouvinte que já passou pelo Tchaikovsky tardio espera, mas é, sem dúvidas, um belo e rico movimento lento. 

IV. Scherzo: Allegro vivo (Jogando: Rápido e vivo) — cerca de 6 minutos
Esta é a frase mais ligeira — no sentido de sua leveza — da obra. Embora seja de orquestração bastante colorida, destoa em certa medida, e reforça o caráter de Divertimento mozartiano, ao invés de irmanar-se às outras partes da obra, francamente Românticas. Mas o espírito de Tchaikowsky está presente, e sua qualidade de melodista (um dos maiores da história!) confere ao movimento  consistência e beleza.

V. Finale: Allegro con fuoco, Tempo di Polacca
(Final: Rápido com fogo, em tempo da dança polonesa) — cerca de 9 minutos
Aqui entra em cena a dança de tradição polonesa, que fez com que o maestro alemão August Manns desse à Sinfonia o título que ela caba por carregar até hoje, na estréia da obra em Londres em 1899. Uma associação errônea que se faz é ligar a "Polonesa" de Tchaikowsky com as questões políticas suscitadas pelas Plonaises de Chopin, estas sim um grito libertário em favor daquela pátria. Na verdade, Tchaikovsky ao inserir o caráter polaco no finale, soava à época como uma espécie de homenagem aos Romanov e ao implacável imperialismo russo, que tomava a dança característica como sua ao ter sufocado o sentido de nacionalidade naquele país, então parte dos domínios do Czar. Dos 5 movimentos, esse talvez seja o mais passível de crítica por parte dos especialistas, por sua quase redundância, sua atmosfera marcial e falta de densidade; a nós, público, pedir-se-ia menos rigor técnico e abertura de espírito para saborear esta página do mais célebre compositor russo, bela como tudo em seu legado.  


© RAFAEL FONSECA


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Por favor, ao postar seu comentário, não deixe de incliur seu endereço eletrônico, para que possamos manter contato! (R. F.)