(1786) MOZART Concerto para piano n. 24

Compositor: Wolfgang Amadeus Mozart
Número de catálogo: K 491 / K-6 491
Data da composição: 1785 a 24 de março de 1786
Estréia: 7 de abril de 1786, em Viena, no Burgtheater — Mozart no piano e regência

Duração: cerca de 32 minutos
Efetivo: piano solista; 1 flauta, 2 oboés, 2 clarinetas, 2 fagotes, 2 trompas, 2 trompetes, tímpano e as cordas (primeiros- e segundos-violinos, violas, violoncelos e contra-baixos)

A orquestra, neste n. 24, é a maior que Mozart usou em seus Concertos, a única vez que ele usou clarinetas e oboés, ao invés de optar por um ou outro. Na época ele andava ocupado escrevendo "As Bodas de Fígaro", mas precisava de Concertos para apresentar-se ao público de uma assinatura de concertos no Burgtheater de Viena; ainda havia muita gente interessada em vê-lo tocar, mas sua fama na cidade andava em declínio, em parte por episódios da vida pessoal.

A obra de Mozart, a partir de 1785, ganha tons sombrios devido aos revezes vividos nesse tempo, que vão culminar em 1787 no soturno — ainda que bem humorado — "Don Giovanni". O Concerto n. 24 surge nesse contexto e é o mais perfeito da série, no sentido do equilíbrio, da arquitetura musical, do tratamento dos temas, da combinação das sonoridades. E talvez, também, por dosar essa sutil melancolia ao clima sempre tão alegre da obra do compositor: Mozart consegue chegar ao mais profundo dos sentimentos, mas sempre iluminando o caminho.

I. Allegro (Rápido) — cerca de 14 minutos
Uma introdução contundente, ameaçadora e depois duvidosa, é apresentada pela orquestra. O piano entra conciliador mas reticente. A orquestra volta a provocar. É a partir do piano que a atmosfera vai se encaminhando para algo mais positivo, porém a viagem aqui é em direção aos sentimentos mais densos, então se temos o tom sempre apaziguador do piano, e as interferências e preocupadas dos sopros, a orquestra — seja como um todo ou só as cordas — é sempre fatalista e trágica. O piano segue tentando trazer a música à luz, enquanto a orquestra lhe responde com lamentosa ferocidade. 

II. Larghetto (Devagar sem arrastar) — cerca de 8 minutos
Num contraste total com o movimento anterior, este movimento lento é de uma simplicidade e tranquilidade singelas. É o grande momento do solista, e seu diálogo é, como Mozart gostava, com os sopros: as cordas apenas comentam, cordatas. A beleza das melodias é transcendental, e o senso de equilíbrio, de harmonia, é o mais genuíno. Se os anjos existem, e se compõe, devem invejar esse trecho.

III. Allegretto (Rápido sem correr) — cerca de 10 minutos
O início do finale, exposto pela orquestra, parece uma reflexão feita a partir dos movimentos anteriores. E o piano responde, como se seu argumento (afinal, ele dominou no segundo movimento) fosse o mais razoável. Segue uma conversa, como se ambos estivessem dispostos aos ajustes necessários para a comunhão final. O tema vai sendo experimentado em diferentes gamas de sentimento (na verdade, são variações), a cada vez a conciliação é mais forte. A conclusão é algo surpreendente, súbita e afirmativa.

Este concerto, e o n. 20, ambos contendo as tintas mais carregadas, tornaram-se os mais frequentes nas apresentações de pianistas do Romantismo no século XIX: gente como Beethoven, Brahms, ou Mendelssohn, inclusive. Beethoven, aliás, tinha especial apreço por este concerto, para ele o melhor Concerto para piano já escrito; disse, uma vez, a Cramer, o responsável pela publicação de seu Concerto n. 5 na Inglaterra: — "Nós jamais vamos conseguir escrever alguma coisa parecida".

© RAFAEL FONSECA

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