(1887) R. STRAUSS Poema Sinfônico "Macbeth"

Macbeth

Compositor: Richard Strauss
Número de catálogo: Opus 23 / TrV 163
Data da composição: 1886/7 — totalmente revisada em 1889/90
Estréia: 13 de outubro de 1890 em Weimar — Hoforchester, regência do autor

Duração: cerca de 19 minutos
Efetivo: 3 Flautas (1 revezando com Flauta-piccolo), 2 Oboés, 1 Corne-inglês, 2 Clarinetas, 1 Clarineta-baixo, 2 Fagotes, 1 Contra-fagote, 4 Trompas, 4 Trompetes, 1 Trompete-baixo, 3 Trombones, 1 Tuba, Tímpanos, 1 Gongo, 1 Bumbo, 1 Caixa-clara, Pratos e Cordas (Primeiros-violinos, Segundos-violinos, Violas, Violoncelos e Contra-baixos)

O único Poema Sinfônico anterior a este, na obra de Strauss, é a Fantasia "Aus Italien" (Os Italianos), mas de estética ainda quase neo-clássica, presa a um romantismo bem comportado. É neste Macbeth que Strauss experimenta, pela primeira vez, sua veia de dramaturgo que frutificaria nos grandes Poemas Sinfônicos seguintes, e posteriormente nas Óperas.

Embora o autor tenha declarado que evitou o mimetismo de Liszt e uma tradução muito direta das emoções abordadas, a obra se inscreve na melhor tradição dos Poemas Sinfônicos do colega austro-húngaro e a partitura faz sugerir que "Romeu e Julieta" de Tchaikowsky também foi influência. Mas voltando à libertação de Strauss de seu estilo inicial, sabemos que o compositor sentiu-se trilhando um caminho completamente novo, explorando novas sonoridades; caminho este que o colocava na direção de obras revolucionárias como "Zaratustra" e "Salomé".

A primeira versão somente foi conhecida em alguns ensaios de orquestra, e logo o autor atenderia à crítica do experiente regente Hans von Bülow, que achou o final da peça — uma triunfal marcha para a personagem de Macduff — efusivo demais para encerrar um drama tão denso e pesado. Logo Strauss re-escreveria a peça, mudando o final, e foi esta a versão que ele mesmo regeu na estréia em Weimar. Anos depois ainda faria alterações, mas aí somente na orquestração.

Allegro un poco maestoso — Sempre più furioso — Moderato maestoso — Tempo I — Furioso — Poco allargando e molto tranquillo (Rápido e um pouco majestoso — Sempre com um pouco de fúria — Moderadamente, majestoso — Volta ao tempo inicial — Furiosamente — Desacelerando um pouco e mais tranqüilo)
   
No Allegro inicial desenham-se os dois temas principais, Macbeth e Lady Macbeth, o primeiro de trágica grandiosidade, o segundo agitado e sensualmente diabólico. As cordas e a seção das madeiras dão desenvolvimento à peça evocando o amor de Macbeth pela esposa, numa passagem lírica e muito bela, até desaguar no Sempre più furioso, a discussão do casal na qual ela o convence a matar o Rei, para que ele, único parente próximo, tome o trono: ouve-se o tema real, num chamado solene dos trompetes (Moderato). O herói se divide entre a honra e fidelidade ao Rei e a ambição incentivada pela esposa, e no retorno do tema dele (Tempo I), agora deformado, ouvimos que venceu a loucura. Segue-se o regicídio (Furioso) para em seguida — aqui deu-se a principal mudança graças a Bülow — Macbeth cumprir a profecia, perdendo primeiro a esposa (suicídio) e depois perecendo na espada de Macduff, que o descobre traidor, tudo na dilacerante música de conclusão (Allargando e molto tranquillo) que evoca sua grandeza, perdida na ambição.

Hoje pouco se escuta essa peça, que perdeu em brilho para os Poemas Sinfônicos posteriores do autor, e que traz a música mais reflexiva dentre todos que ele escreveu, uma vez que depois ele adotaria uma escrita musical bem mais afirmativa. A sonoridade, inaugurando ele essa busca por uma nova estética, é de texturas inovadoras, mas ainda assim saiu estranha e complexa. Mas o que Strauss não podia livrar-se — e disso ele até se queixou a Bülow — era da beleza luxuosa de sua escrita sinfônica, e talvez esse seja o elemento em excesso no Macbeth: tanta poma para descrever a sombria personagem de Shakesperare.

© RAFAEL FONSECA