(1807) BEETHOVEN Abertura "Coriolano"

Coriolan
Ouvertüre zu Heinrich Joseph von Collins Trauerspiel "Coriolan"
(Abertura para o Drama "Coriolano" de H. J. von Collin)

Compositor: Ludwig van Beethoven
Número de catálogo: Opus 62
Data da composição: 1807
Estréia: ? de março de 1807 — Palácio do Príncipe Lobkowitz, Viena

Duração: cerca de 9 minutos
Efetivo: 2 flautas, 2 oboés, 2 clarinetas, 2 fagotes, 2 trompas, 2 trompetes, tímpano, cordas (primeiros e segundos violinos, violas, violoncelos, contra-baixos)

A Abertura de "Coriolano" é atípica, pois não constitui parte de uma música de cena, como era de se esperar, se sabemos que Beethoven a escreveu motivado pela Tragédia de Collin sobre o general romano Gaius Marcuis Coriolanus. Quando ele escreveu a Abertura — e só ela, nenhuma continuidade — a peça já não estava em cartaz há 2 anos (havia sido sucesso de 1803, quando estreou, a 1805). Homenageou o autor com a dedicatória, e criou acidentalmente um novo gênero musical: a Abertura de Concerto.

E antecipou o ainda por nascer Franz Liszt na criação do Poema Sinfônico. Isto porque esta Abertura encaixa-se à perfeição na definição de um Poema Sinfônico: traduz musicalmente uma peça literária pré-existente, conta resumidamente sua história, sem recorrer ao texto cantado, somente sugerindo subliminarmente pelas emoções suscitadas na música. E a saga de Coriolanus é a seguinte:

Allegro con brio
(Rápido e com brio)
Os acordes iniciais, enfáticos, típicos de Beethoven, mostram a revolta de Coriolano com o Senado de Roma. Logo em seguida aparece seu tema nas cordas, desnudando sua personalidade forte e orgulhosa. Um segundo tema, mais terno, traz à cena as matriarcas de Roma. É que Coriolano havia reunido um exército revoltoso e cercara a cidade, para invadí-la. A pedido dos Senadores, as mulheres vão até Coriolano pedir sua rendição.

Um murmúrio nas cordas expõe a tentativa de convencimento; e as idéias contrastantes, com diálogo entre violinos e sopros, colocam Coriolano no dilema, com o retorno de seu tema inicial, agora exposto com muito mais dramaticidade: ele quer atender às mulheres, que vieram lideradas por sua mãe e sua esposa, mas já tem atrás de si um exército fiel, sedento de sangue e vingança. As cordas cantam a tortura psicológica desde herói que se divide entre sua missão e sua consciência.

Refém desse impasse, Coriolano, para não trair seus liderados e nem contrariar suas mulheres, opta pelo suicídio. Após repetição dos acordes iniciais, agora reforçados pelos metais em fortíssimo, sua vida se esvai enquanto a melodia se dissolve nos violoncelos, até que ele desaparece no terceiro pizzicato.

© RAFAEL FONSECA