(1896) BRUCKNER Sinfonia n. 9

Compositor: Anton Bruckner
Número de catálogo: WAB 109
Data da composição: de 12 de agosto de 1887 a 1896 (deixada incompleta)
Estréia: 11 de fevereiro de 1903 — Viena, Ferdinand Löwe regendo a Sinfônica de Viena 

Duração: de 50 minutos a 1 hora
Efetivo: 3 flautas (uma alternando com piccolo), 3 oboés, 3 clarinetas, 3 fagotes (um alternando com contra-fagote), 8 trompas (sendo que 2 alternam com tubas-wagnerianas e outras 2 com tubas-wagnerianas-baixo), 3 trompetes, 3 trombones, tuba, tímpano, cordas (primeiros- e segundos-violinos, violas, violoncelos e contra-baixos)

A composição desta obra derradeira começa em 1887, mas o fracasso da Oitava Sinfonia atinge Bruckner de maneira terrível, e ele só poderá voltar a jogar suas energias na partitura da Nona a partir de 1891. Dedicada "ao amado Deus", o terceiro movimento fica pronto em 1894, um Adagio esplêndido e arrebatador. Dois anos o compositor ainda teria pela frente, mas sua saúde já não permitia o empenho total e ele viu a morte chegar sem que o quarto e último movimento estivesse concluído; de fato, o que já havia sido escrito não ainda permitia uma conclusão. Diante disso, ele recomendou que se tocasse à guisa de finale o seu "Te Deum", obra coral religiosa que conferiria à sua Nona um escopo semelhante ao da Nona de Beethoven. Mas o que todo regente faz hoje e apresentar a obra tal como ela ficou: inacabada. Findo o Adagio, o maestro pousa a batuta e os ouvintes saem da sala de concertos como se tivessem ouvido a voz do próprio homenageado com a obra, Deus.

I. Feierlich, misterioso
(Solene, misterioso) — de 22 a 26 minutos
Bruckner foi um compositor ímpar e suas Sinfonias caracterizam-se por algumas particularidades que só a elas são pertinentes. Uma, a mais óbvia, é a questão da repetição. Os micro-temas são repetidos muitas vezes, com pequenas alterações, e a isso se soma a segunda particularidade, a do empilhamento: como a decoração de uma catedral barroca, a repetição excessiva dos elementos faz compor o todo, e assim Bruckner constrói suas frases musicais. Uma terceira é a espacialidade da música, como se ela quisesse ocupar todos os cantos e cada nicho do lugar onde ela é tocada. Todas essas características, que vieram sendo buriladas e melhor trabalhadas a cada uma das Sinfonias que ele escreveu, chegam ao seu ápice magistral no primeiro movimento da Nona.

II. Scherzo: Bewegt, lebhaft — Schnell
(Scherzo: Movimentado e vivo — Rapidamente) — cerca de 10 minutos
Cada Scherzo bruckneriano é um mundo em si, mas aqui o movimento impetrado por Beethoven como parte da Sinfonia, em substituição ao frívolo Minuetto de Haydn, deixa de ser apenas um trecho bem-humorado e algo irônico para se transformar num selvagem anúncio (ou prenúncio) do esfacelamento do modo de vida da Áustria imperial no início do século XX (dali a 2 décadas). O impacto deste Scherzo é avassalador, como nem em Mahler voltaria a ser.

III. Adagio: Langsam, feierlich
(Com calma: Muito lento, solene) — de 21 a 29 minutos
A última página completa da Sinfonia, e a última da vida do compositor. Saberia o menestrel de Deus que sua vida estava perto do fim? Um canto de despedida que excede a necessidade do movimento seguinte (o qual só ficaram esboços e rascunhos incompletos), daí os regentes optarem por finalizar a obra aqui mesmo e não tocar o final coral proposto pelo compositor no leito de morte. O Adagio da Nona de Bruckner é a coroação de todas as suas propostas musicais, o homem que tanto buscou a Deus com sua música deixa como derradeiro ponto de seu legado um discurso musical repleto de força humana, terrena. Não é um Adagio transcendental ou celeste como se pode ouvir em Sinfonias dele anteriores (especialmente na Quinta e na Sétima), mas sim um movimento carregado de poesia real, viva, um lirismo que nos conecta com a beleza do viver, do estar vivo, do querer continuar vivo, do celebrar a existência com todas as suas verdades, dores e alegrias. 

© RAFAEL FONSECA