(1893) TCHAIKOWSKY Sinfonia n. 6, Patética

Симфония Патетическая  — transliteração: Simfonija Pateticheskaja
Symphonie Pathétique (da edição em francês)

Compositor: Piotr Ilyich Tchaikowsky
Número de catálogo: Opus 74 / TH 30 / ČW 27
Data da composição: 4 de fevereiro a 31 de agosto de 1893
Estréia: 16 de outubro de 1893 em São Petersburgo, regência do compositor

Duração: de 45 minutos a 1 hora
Efetivo: 1 flauta-piccolo, 3 flautas, 2 oboés, 2 clarinetas, 2 fagotes, 4 trompas, 2 trompetes, 3 trombones, 1 tuba, tímpanos, pratos, bumbo, gongo e as cordas (primeiros- e segundos-violinos, violas, violoncelos e contra-baixos) 

Há uma lenda por trás desta Sinfonia, uma história que não se pode confirmar, e na qual não se deve acreditar, de que Tchaikowsky com a sua Sexta estaria se despedindo da vida, que ela seria seu testamento musical antes de um suposto suicídio. Por mais que a música sugira um canto de despedida, nós não poderemos saber nunca como foi que Tchaikowsky morreu, e sua "Patética" permanecerá como parte de um mistério.

O que temos é alguns depoimentos dele a pessoas próximas, revelando haver um programa que jamais seria conhecido, cabendo aos ouvintes tentar decifrar "o enigma". A Bob Davidov, seu sobrinho — e amante na ocasião — ele não só revelou os mais importantes detalhes, como lhe dedicou a obra. É sabido que havia o tal programa, que embora não divulgado sabemos ter sido o destino — esse infalível senhor que lhe impunha todas as dores — o tema de suas duas Sinfonias anteriores, a Quarta e a Quinta. E ficam evidentes suas intenções para surpreender as platéias com um Finale incomum, Finale este que suscita tantas interpretações a respeito desta obra e suas possíveis ligações com a morte do compositor.

I. Adagio – Allegro non troppo
(Lento — Rápido mas nem tanto) — de 17 a 25 minutos
A obra inicia-se, como a Sinfonia anterior, com uma introdução lenta, porém numa atmosfera bem mais sombria. O tema virá no fagote e logo temos o Allegro com as cordas tentando transmutar esse tema em uma melodia mais aberta e alegre. Surge então um segundo tema nos violinos, de extraordinária beleza; esse tema será explorado até desfazer-se numa passagem lenta e meditativa que abruptamente é cortada por um acorde ameaçador. Daí por diante o clima é de angústia e desespero, fanfarras implacáveis relampejam um aviso cruel; tudo se dissolve novamente. Volta-se ao Allegro e de novo a atmosfera sufocante. Os sopros tomam para si o segundo tema, aquele doce e cativante, e o movimento se conclui em pizzicato.

II. Allegro con grazia
(Rápido com graça) — cerca de 8 minutos
É uma Valsa irresistível. Um momento de paz depois do imenso turbilhão do movimento anterior. Mas nem tudo são flores nesta valsa escorregadia: a marcação cerrada do tímpano na seção central dá a impressão de pressão e um leve toque fúnebre. A parte dançante do início deste movimento volta, com toda a sua graça.

III. Presto: Allegro molto vivace
(Muito rápido: Rápido e com muita vivacidade) — de 8 a 11 minutos
Fazendo as vezes do Scherzo, mas com cores iniciais quase mozartianas — sabemos que Tchaikowsky em jovem amava Mozart acima de todos os outros compositores — e algo de diabólico e implacável. Uma marcha contínua que prossegue mais e mais em direção a uma explosão, subindo subindo, acumulando forças, como uma represa que transbordou e vai levando tudo à sua frente. O clímax atingido no final deste movimento é o cume da obra, pois não haverá um topo a alcançar no movimento seguinte...

IV. Adagio lamentoso
(Lento e em tom de lamentação) — de 9 a 15 minutos
Escreveu Tchaikowsky a Bob Davydov: — "O Finale não será um Allegro barulhento, mas um longo e arrastado Adagio". E porque? Porque abrir mão do clímax que toda obra persegue, que todo compositor quer e toda platéia espera? Essas perguntas não podem ser respondidas. O que temos é esse Finale desconcertante, exasperadamente emotivo, desesperançado, melancólico, choroso. O tema que é exposto por inteiro apenas no início do movimento, na verdade vai se dissolvendo pouco a pouco a cada repetição, vai perdendo-se, tornando-se rarefeito. Alguns rugidos roucos se constroem, para logo serem mergulhados na pastosa e contundente planície de dor. A última frase vai perder-se num cortejo dramático, que se distancia do ouvinte como quem tem vergonha de se despedir.

Tchaikowsky regeu esta obra e cinco dias depois estava irremediavelmente doente (a teoria de que ele bebera água suja do Volga não se pode confirmar), e dez dias depois da estréia ele morria vítima do cólera, apesar do esforço dos melhores médicos. Se não foi uma morte tramada por ele próprio, tentando evitar que um escândalo sexual com um membro da família imperial — como foi aventado por muitos — viesse à tona, tendo a Sinfonia como testemunho, nunca poderemos afirmar. Se foi só um acaso, ou havia nele premonição... Nada é certo. Fiquemos com a música, esse sim o seu maior legado.

© RAFAEL FONSECA