(2013) RIPPER "Cinco poemas de Vinícius de Moraes"

Compositor: João Guilherme Ripper
Número de catálogo: não tem
Data da composição: 2013
Estréia: 30 de maio de 2013 - Sala São Paulo, São Paulo, Carmen Monarcha acompanhada da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo sob a batuta de Alondra de la Parra

Escreveu o autor:

❝Quando recebi da Osesp a encomenda para escrever uma peça em homenagem ao centenário de Vinicius de Moraes, o título chegou pronto, poupando- me o sempre incômodo trabalho de batizar uma nova obra.
 
Tinha ali o autor dos textos e o número de poemas com que deveria trabalhar: Cinco Poemas de Vinicius de Moraes. Mas o próximo passo — escolher aqueles que constituiriam o ciclo — revelou-se imenso. Romântico, místico, moderno, sonetista ímpar, autor teatral, letrista prolífico, autor de grandes clássicos da música popular: que poeta deveria ser o Vinicius de meus Cinco Poemas? Foram necessários vários mergulhos em sua Antologia Poética para descobrir que, a despeito dos diferentes estilos, métricas ou técnicas, em toda a sua poesia pode-se identificar a voz clara e inconfundível de quem escreve com a própria vida.
 
Seja a vida, então, a linha condutora! Sigo Vinicius em sua multiplicidade; chegam-me músicas diversas a partir das leituras de seus poemas. Começo o ciclo com uma declaração seminal, “Uma Música Que Seja”, poesia em prosa, que anseia por uma música “como o ponto de reunião de muitas vozes em busca de uma harmonia nova”. A segunda canção, “O Poeta Aprendiz”, é autobiográfica e fala do Vinicius criança, agitado e melancólico “de sonhar o poeta / que quem sabe um dia / poderia ser”.
 
Segue-se o conhecido “Poema Dos Olhos da Amada”, com sua escrita fluida e versos apaixonados, como foram derramados os amores de Vinicius: “Quantos saveiros / quantos navios / quantos naufrágios / nos olhos teus...”.
 
E quantos caminhos levam-me ao poema “Lapa de Bandeira”, a quarta canção. A poesia de Manuel Bandeira e o tema da amizade, constante na vida e obra de Vinicius, misturam-se a todas as músicas da Lapa, que já foi berço do choro, é o atual celeiro da música popular carioca e, last but not least, o bairro onde fica a Sala Cecília Meireles. Mas, ao ler e reler o poema, todos esses motivos acabam à sombra da bela imagem/homenagem que descreve o simples apartamento do amigo-poeta: “Porém, no meu pensamento / Era o farol da poesia / Brilhando serenamente”.
 
Escolho fazer de “A Partida” a grande celebração que encerra poética e musicalmente o ciclo de canções. Vejo o poeta descrevendo um fim que passa ao largo da tristeza, carnavalizado e transformado na viagem para uma estrela. Ao escrever a música, carregada de percussão, procuro recriar a atmosfera de um ritual afro, parte importante de sua mitologia plural. O poema termina com os versos “No oco raio estelar / libertado subirei”. Sabe Vinicius que, em sua eterna viagem, arrasta multidões encantadas no rastro de sua poesia.❞

© JOÃO GUILHERME RIPPER
FONTE: www.osesp.art.br