(1945) BRITTEN "Interlúdios do Mar"

Four Sea Interludes from Peter Grimes

Compositor: Benjamin Britten
Número de catálogo: Op. 33-a
Data da composição: 1944/1945
Estréia: 13 de junho de 1945 — Cheltenham (Inglaterra), o compositor regendo a Filarmônica de Londres

A Suite dos "Quatro Interlúdios do Mar" é derivada da ópera "Peter Grimes", de 1945. Considerada uma das melhores óperas do século XX, Britten a escreveu baseado no poema "The Borough" (O Burgo) de George Crabbe (1754-1832), uma vila fictícia que em muito se assemelhava ao local onde o poeta vivia. No poema, Peter é um pescador bronco e anti-social que acaba perseguido pela desconfiada população do vilarejo.

Britten viu semelhanças com a sua Aldebourgh e a oportunidade de colocar o tema da opressão aos homossexuais, ele próprio companheiro do tenor Peter Pears, que cantou o papel-título na estréia da ópera em Londres sob a regência de Reginald Goodall. Britten escreveria, sobre a história, que era "um assunto muito perto do meu coração, a luta do indivíduo contra as massas; quando mais a sociedade é cruel, mais cruel ainda é o indivíduo".

Na ópera, o mar desempenha papel fundamental — Britten foi criado em uma cidadela do Mar do Norte e depois escolhera viver em Aldeburgh, outra pequena cidade costeira — e antes de cada uma das cenas há uma passagem sinfônica, um interlúdio, que coloca o ouvinte na atmosfera correta. Essas são as peças compiladas na Suite "Quatro Interlúdios do Mar", que foi publicada separadamente à ópera e é frequentemente executada em concertos. Foram, pelo autor, assim dispostos, oferecendo uma espécie de jornada:

I. Dawn: Lento e tranquillo
(Aurora: Lento e tranquilamente)
Uma sonoridade etérea sugere a primeira luminosidade da manhã cinzenta, rompendo a atmosfera pesada do vilarejo e de seus moradores, enquanto pássaros sobrevoam as águas. Os metais da orquestra evocam a ameaça constante que o mar representa.

II. Sunday morning: Allegro spirituoso
(Domingo de manhã: Rápido espirituoso)
A animação do dia de descanso, os ecos do sino da igrejinha (corajosamente, o compositor mimetizou essa sonoridade nas difíceis trompas), enquanto os raios do sol rebatem e refletem sobre as ondas.

III. Moonlight: Andante comodo e rubato
(Luz do luar: A passo de caminhada, confortavelmente e com rubato)
A noite no vilarejo, o sentimento de solidão, o clima sombrio, a tensão que vai se acumulando e intensificando.

IV. Storm: Presto con fuoco
(Tempestade: Bem rápido e "com fogo")
A fúria do vento, o choque das ondas no quebra-mar, o terror provocado pelas forças da natureza, e, ao mesmo tempo, (na ópera) o caráter áspero e explosivo de Peter Grimes e sua brutalidade.

© RAFAEL FONSECA