(1866) STRAUSS II Valsa "O Danúbio Azul"

Walz "An der schönen blauen Donau" — Valsa "No Belo Danúbio Azul"

Compositor: Johann Strauss II
Número de catálogo: Opus 314
Data da composição: 1866
Estréia: 15 de fevereiro de 1867, Saal des Dianabades em Viena - na versão coral, com o Wiener Männergesang-Verein regido pelo compositor | 10 de março de 1867, Volksgarten em Viena - na versão orquestral, regência do compositor

Baden-Baden, final do século XIX. A Belle-Époque em seu auge. Uma moça reconhece o compositor Johannes Brahms, sentado num café. Estende-lhe uma pequena cartela, onde espera — como era o costume daqueles tempos — que ele coloque um trecho de uma famosa melodia sua e autografe. Enquanto Brahms deita sobre o papel sua nervosa caligrafia, transeuntes curiosos fingem prestar atenção a outra coisa, mas estão a rodear a grande figura. A moça recebe o papel de volta, lê, e se surpreende com a pequena pauta com as notas desenhando a célebre melodia principal de "O Danúbio Azul" de Strauss II; abaixo, a inscrição: — "Infelizmente, não é... Brahms!".

A anedota acima é famosíssima. Já a li também situada em Bad Ischl, outra estação de águas onde Brahms era habituée. E com muitas variações. Ora era uma bela moça a pedir o autógrafo, ora uma moça não tão bela, ora o elogio a Strauss II teria sido aplicado a um cartão dirigido a Adele (a senhora Strauss), ora a Alice, enteada de Strauss. O fato é que Brahms e Strauss II eram amicíssimos e ele declarou certa vez que daria tudo para ter composto a inventiva valsa do amigo.

"Danúbio Azul" foi primeiramente concebida para uma Associação de Canto Coral em Viena, e sua primeira apresentação deu-se com um coro masculino acompanhado ao piano pelo próprio Strauss. Sentindo o poder melódico da peça, mas com fraca receptividade da estréia, Strauss resolveu experimentar a versão orquestral (tudo leva a crer que as duas versões foram surgindo juntas, e não uma depois da outra). Essa versão, a que permanece até hoje, foi tocada em público pela primeira vez no Volksgarten de Viena com Strauss II dirigindo sua própria orquestra (conjunto este com o qual ele se apresentava em cafés, cervejarias e bailes chiques da cidade). No mesmo ano viria o sucesso apoteótico na Exposição Universal de Paris, e logo depois nos Estados Unidos. A versão coral ainda apareceria naquele mesmo ano em Londres, nos Proms, tocada na presença da Rainha Victoria.

Como é comum nas maioria das valsas de Johann Strauss II — membro de numerosa família de compositores dessa chamada "música ligeira" — podemos perceber um claro reflexo da chamada "forma-sonata" com introdução lenta, exposição do tema, desenvolvimento (com outros temas aparecendo), re-exposição do tema e coda (que é a "cauda", resolução da peça que culminará no acorde final). A orquestração é eficiente, sem exageros e, porque não dizer?, sofisticada.

Hoje a Valsa é uma espécie de segundo hino da Áustria, reconhecida mundialmente, mesmo por aqueles que não são próximos da música de concerto. Seu uso indiscriminado pela publicidade televisiva contribuiu para essa popularidade, e o filme "2001" de Stanley Kubrick eternizou-a numa das cenas mais belas da história do cinema.

Anualmente, a Filarmônica de Viena faz um Silvesterkonzert (Concerto de São Silvestre, o nosso Ano Novo) com muitas valsas, polcas, quadrilhas, e outras peças de música ligeira, sempre com um grande regente convidado. A tradição manda que "O Danúbio Azul", seguindo-se a "Marcha Radetzky" do Strauss pai, sejam as peças de encerramento do programa.

© RAFAEL FONSECA