(1800) BEETHOVEN Concerto para piano n. 3

Compositor: Ludwig van Beethoven
Número de catálogo: Opus 37
Data da composição: 1800, com pequenas revisões até 1803
Estréia: 5 de abril de 1803, em Viena - Ludwig van Beethoven ao piano

Duração: cerca de 34 minutos
Efetivo: piano (solista); 2 flautas, 2 oboés, 2 clarinetas, 2 fagotes, 2 trompas, 2 trompetes, tímpano, cordas (primeiros-violinos, segundos-violinos, violas, violoncelos e contra-baixos)   

Beethoven, que nos 2 Concertos precedentes vinha buscando superar a estética mozartiana de harmonia perfeita — tarefa, diga-se, inglória —, finalmente encontra nesta obra o seu próprio sotaque. É o primeiro grande Concerto do mestre, e o último Concerto Clássico importante da história, já que o número 4, a meu ver, já se inscreve no Romantismo.

I. Allegro con brio
(Rápido e com brio) — cerca de 17 minutos
A introdução da orquestra é marcial, compassada, enigmática; a primeira frase sugere reflexão e suspense; a segunda frase já expõe um clima pujante e heróico. Após essa longa e densa introdução orquestral, que apresenta todos os temas a serem tratados no primeiro movimento, o piano entra vigoroso e empertigado, querendo confrontar a orquestra com coragem hercúlea. A música de Beethoven perde, aqui, toda a inocência. Se antes o jovem compositor buscava enquadrar-se nos moldes Classicistas, como um Haydn ou um Mozart, nesta obra ele já escreve num estilo próprio, impetuoso. Os acordes fortes, as repetições de notas afirmativas e contundentes, o sentido de grandeza confirmam um idioma musical totalmente novo para aqueles ouvidos acostumados e desejosos da cortesia das sonoridades de então. Nesse primeiro movimento, piano e orquestra vão nos levando por sendas onde a conversa é agitada, há espaço para concordâncias, mas chega-se a pontos de explosão que seriam impensáveis em Mozart, o modelo de Beethoven na escrita para piano e orquestra.

II. Largo
(Bem devagar) — 8 a 11 minutos
Tudo começa com uma frase introspectiva e enternecedora no piano, e logo os sopros respondem, iniciando o jogo instrumental, que se dá com calma, meditativamente. Sem ceder ao virtuosismo barato, o piano harpeja enquanto oboé e flauta desenham belas melodias na parte central do movimento. O segundo movimento mantém a sensação de suspense suscitada no primeiro movimento, introduzindo um elemento meditativo, duvidoso; não é mais a certeza do belo cuja vontade é enternecer (como se esperava de um segundo movimento de Concerto). É a reflexão em forma de frases musicais.

III. Rondò: Allegro
(Rondò: Rápido) — cerca de 9 minutos
O Rondò final coloca piano e orquestra correndo em disputa, ora festejando um ao outro, ora o piano liderando e levando a orquestra a seus limites. A apreensão criada nos movimentos anteriores se transmuta em uma alegria jubilosa, corajosa e triunfal.

A atmosfera da obra é derivada do Concerto n. 24 de Mozart, considerado por Beethoven como o mais perfeito dos escritos pelo mestre de Salzburg. O Concerto n. 3 de Beethoven é fascinante, justamente pela mistura entre o rigor do Classicismo — ainda não abandonado pelo compositor — e sua incapacidade de evitar a transferência de sua personalidade inquieta para a partitura. Confesso ser este o meu Concerto favorito no repertório...
    
© RAFAEL FONSECA