(1847) MENDELSSOHN Concerto para violino n. 2

Compositor: Felix Mendelssohn-Bartholdy
Data da composição: 1838 a 1844
Estréia: 13 de março de 1845 — em Leipzig: Ferdinand David ao violino, acompanhado da Gewandhausorchester, regência de Niels Gade

Duração aproximada: 25 minutos
Efetivo: violino-solista; 2 flautas, 2 oboés, 2 clarinetas, 2 fagotes, 2 trompas, 2 trompetes, tímpano, e as cordas (primeiros-violinos, segundos-violinos, violas, violoncelos, contra-baixos)

Primeiro, um esclarecimento: esse Concerto sempre aparece nos programas sem a numeração que aqui a ele atribuímos, como se fosse a única obra para violino e orquestra de Mendelssohn. Mas há, na verdade, um Concerto anterior, mais modesto, para violino e orquestra de cordas, escrito pelo compositor em sua juventude em 1823, quando ele tinha 14 anos.

Estamos tratando de um dos mais belos Concertos para violino, e talvez o maior popular. Sem dúvida, sua beleza contribui para sua aceitação imediata, mas há qualidades internas inequívocas que fazem dele um concerto estruturalmente equilibrado e um amálgama da perfeição construtiva do já passado Classicismo junto ao apelo envolvente e sedutor do Romantismo então em voga quando de sua estréia. Isso não se dá por acaso. Vejamos as circunstâncias de sua composição.

Mendelssohn era treinado no violino, e sabia de suas dificuldades técnicas, pois há registros de apresentações suas tocando o instrumento no ambiente doméstico com 9 anos de idade. Em 1835 ele assume, aos 26 anos, a direção da Orquestra da Gewandhaus em Leipzig, e convida seu dileto amigo Ferdinand David para ser o spalla do conjunto. Três anos depois, em 1838, ele escreve a David dizendo que iniciou a composição de um Concerto para violino, para que o amigo o tocasse. Esse talvez seja o grande diferencial desta obra: primeiro que era um compositor conhecedor das dificuldades técnicas do instrumento; e segundo que a concepção se dava justamente do ponto-de-vista do regente da orquestra escrevendo a seu violinista-principal, ou seja, as relações do violino com a orquestra fariam-se com naturalidade sem paralelo. Alguns fatores fizeram com que Mendelssohn, geralmente um compositor rápido ao concluir suas composições, se demorasse por seis anos burilando a partitura. O resultado é o que temos a seguir:

I. Allegro molto appassionato (Rápido e com muita emoção) — cerca de 12 minutos
Contrariamente à praxe, o violino não espera uma introdução orquestral para apresentar-se. Os sopros imitam o que seriam o pedal de um órgão e sobre esse acorde o violino impõe sua frase inicial eloquente, muito expressiva, que será repetida pela orquestra; as ideias subsequentes e o diálogo entre solista acontecem — como já dito acima — com imensa naturalidade. É o violino quem conduz toda a "ação" liderando ora com bravura, ora com docilidade, mas sempre protagonista absoluto da música. A orquestra está, a todo tempo, a seu serviço. É como se Mendelssohn quisesse sintetizar o papel do spalla no conjunto, sua liderança intrínseca e sua intimidade com os demais instrumentos.

— attacca: 
II. Andante (Sem interromper: Confortavelmente) — cerca de 7 minutos
Mendelssohn quis que seu Concerto encadeasse os movimentos, sem que houvesse interrupção entre eles, o que torna o discurso dramático ainda mais eficiente. O movimento lento assemelha-se, em caráter, a um lied (típica canção germânica), de sensível expressão de sentimento, lembrando suas "Canções sem palavras". Na seção central, uma passagem cheia de nobreza, com a fanfarra introduzindo um chamado solene entoado pelas cordas, ao qual o violino responde em tremolo, cheio de melancolia, e uma atmosfera de êxtase se estabelece. O violino retoma o clima enternecido inicial e o movimento vai diluindo-se até que...

— attacca: 
III. Allegretto non troppo – Allegro molto vivace (Moderadamente rápido, sem exagero — Rápido e muito vivo) — cerca de 6 minutos
... o violino solista canta uma doce e suave cadência de passagem, que será quebrada pelo anúncio imperativo dos trompetes, mudando o clima para o espontâneo Finale que se segue, no qual violino e orquestra dialogam de maneira mais enfática, mais à moda dos Concertos clássicos, com maior dualidade na repetição das ideias. A participação do solista é de grande brilho, e o acompanhamento orquestra finamente rendado, lembrando de longe Mozart, mas com toda a sofisticação do Romantismo típico de Mendelssohn, um Romantismo mais leve, elegante, de grande fluidez.

Quando da estréia em 1845, Mendelssohn estava muito doente para reger a orquestra, e o compositor e regente dinamarquês Niels Gade foi o responsável pela orquestra na primeira apresentação. Ele só viria a conhecer a própria música — regendo-a — sete meses depois, em outubro de 1845, tendo o mesmo David como solista.

© RAFAEL FONSECA

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